Imigrantes venezuelanos aguardam no posto da Polícia Federal em Pacaraima, Roraima. Foto: ACNUR/Reynesson Damasceno
Em 2021 foram registradas 29.107 solicitações de refúgio. Venezuelanos seguem como maioria dos solicitantes, mas pedidos de haitianos diminuem.
De acordo com dados do Ministério da Justiça e da Polícia Federal agrupados pelo Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra), em 2021 o número de solicitações de refúgio voltou a crescer e foram registradas 29.107 solicitações. Uma das causas apontadas foi a melhora da pandemia e a consequente reabertura das fronteiras terrestres, que permitiu o aumento da entrada de imigrantes no Brasil.
Em comparação com os dados de 2020, quando o número foi de 28.899, os venezuelanos continuam sendo a nacionalidade que mais realiza solicitações com 22.856 pedidos de refúgio, o equivalente a 78,5% do total. Os pedidos de refúgio por parte de haitianos, no entanto, sofreram uma queda de 20%, quando comparados os dados de 2020 e 2021: em 2020, foram 6.613 solicitações, o equivalente a 22,8% do total; em 2021, a porcentagem caiu para 2,8%, com 842 solicitações.
De acordo com o coordenador do OBMigra, Leonardo Cavalcanti, a diminuição da pandemia não pode ser considerada como a única causa do aumento na migração, apesar de ser um fato determinante para a flexibilização das fronteiras, pois “muitos podem estar se movimentando para trazer familiares que haviam ficado para trás”, afirma.
Com a situação ainda ruim na Venezuela, Gabriel Lima, de 27 anos, queria sair do país há mais de dois anos. Em dezembro, aproveitou a reabertura parcial da fronteira e levou sete dias de carona para ir de Tucupita, no norte da Venezuela, até Pacaraima, Roraima, divisa com a cidade venezuelana de Santa Elena Uairén – porta de entrada mais comum de venezuelanos no Brasil.
Na Venezuela, onde vivia com a esposa, o filho de 1 ano, quatro irmãs, a sogra e uma cunhada, passava o dia procurando emprego, sem sucesso. “Saía às 5h para procurar trabalho e voltava às 20h morto de fome, pedindo prato de comida na rua”, conta Gabriel, que hoje está em São Paulo na Casa do Imigrante e trabalha como auxiliar de pedreiro para mandar dinheiro para a família, que ficou na Venezuela.
Luis Alexander Guillen, de 49 anos, chegou ao Brasil em agosto de 2021 e deixou na Venezuela a esposa e o restaurante onde vendia prato feito. Ele também trabalha como ajudante de pedreiro e conta que, na Venezuela, ganhava entre US$10 e US$20 por semana “aqui, como ajudante de pedreiro ganho isso em um dia”, conta Guillen, que pretende trazer a esposa assim que possível e afirma: “Não vim porque a covid-19 deu uma trégua. Vim por causa da crise em meu país.”
Fluxo de haitianos diminui
Com a piora no cenário econômico brasileiro, mesmo imigrantes haitianos que já viviam no país antes da pandemia vêm se desiludindo e procuram sair do país em busca de melhores salários, como enfatiza o padre Paolo Parise, coordenador da Missão Paz, em São Paulo. “A chegada de Biden ao poder, em 2021, ajudou a difundir a ideia de que migrar para lá seria mais fácil”, conta, afirmando que o desejo de poder ganhar em dólar e enviar mais dinheiro para casa motivou a mudança.
Para Sophonie David, de 25 anos, essa é uma realidade. No Brasil desde 2018, a jovem nascida em Les Cayes reclama da economia do Brasil hoje. “Ganho de R$ 1.000 a R$ 1.200 por mês. Mas com isso hoje você compra arroz, feijão e acabou”, reclama, depois de retirar seu novo passaporte na sede da Missão Paz. Ela conta que, durante a pandemia, muitos amigos saíram do Brasil para viver nos EUA ou Canadá ao verem sua renda diminuir ou desaparecer completamente e assume que essa pode ser uma possibilidade também para ela: “Talvez eu também vá”.
Com informações de Valor Econômico