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A morte é invisível. Mas não quando se é um bilionário num submarino

Em 2023 morreram 5 bilionários visitando o Titanic e mais de 500 imigrantes. Todos no mar. O que você sabe sobre eles?

As informações sobre o submersível que implodiu tentando visitar os destroços do Titanic têm se multiplicado de forma impressionante – e, talvez – mais do que o próprio fato. Sabemos que eram cinco pessoas a bordo, quem eram (bilionárias) e exatamente o quanto pagaram para a expedição (cerca de $ 250 mil dólares – mais de um milhão de reais).

Sabemos, por meio das notícias que se replicaram nos sites, que a mulher de dono da empresa do submarino desaparecido é descendente de um casal famoso morto no Titanic e que um jovem, de 19 anos, só aceitou ir para agradar o pai.

Sabemos também que o projeto do submersível, denominado Titan, se mostrava bastante amador, que só era possível sair de dentro dele se alguém retirasse os parafusos pelo lado de fora e que o controle utilizado era de um videogame – e até ao preço do controle tivemos acesso, cerca de R$ 200,00.

Sabemos a cor do veículo, quanto tempo de oxigênio ele garantia, temos as imagens dos tripulantes, seus nomes e sobrenomes e, provavelmente, se formos um pouco mais a fundo, onde moravam e o quanto lucravam por ano. Sabemos que morreram numa expedição turística a bordo de um veículo não muito seguro, e mesmo assim, escolheram embarcar, movidos – talvez – por um desejo de algo mais, de viver uma aventura marítima tais quais nos filmes de Hollywood ou nos filmes de James Cameron.

Em 2023 morreram 5 bilionários visitando o Titanic e mais de 500 imigrantes. Todos no mar. O que você sabe sobre eles?

Sabemos que o excesso de dinheiro pode dar às pessoas a sensação de poder e de imortalidade. Mas nesse caso, os bilionários estavam ali, amassados, apertados e ofegantes dentro de um veículo pequeno e apertado, mal construído e desconfortável, parecido com os ônibus lotados que levam os trabalhadores de volta para casa ou os quartinhos apertados das favelas.

Fato é que o mundo parou para acompanhar as notícias sobre o Titan e, mesmo depois de encontrados destroços dele e confirmada a morte de todos os cinco tripulantes, as especulações continuaram dando ao fato uma importância tal que é quase impossível ficar indiferente. E é, justamente aí, na indiferença, ou na comoção seletiva que nós, consumidores de informações, embarcamos, quase sem refletir. Não se trata de desrespeitar a morte ou criar sectarismos. Mas é preciso refletir sobre a seletividade da mídia, os esforços de busca, a importância dada a cada fato, a comoção sobre tragédia, o quanto somos capazes de nos importar.

Em 2023 morreram 5 bilionários visitando o Titanic e mais de 500 imigrantes. Todos no mar. O que você sabe sobre eles?

Só esse ano, de janeiro a junho, cerca de 500 pessoas morreram tentando atravessar o mar Mediterrâneo da África para a Europa. Em abril foram mais de 300 mortes, o maior número dos últimos seis anos registrados no trimestre. Este mês, no dia 14 de junho, uma embarcação naufragou em águas internacionais no sudeste da Grécia. Pelo menos 78 pessoas morreram.

Foram vários naufrágios e diferentes embarcações. Em nenhuma das notícias, bem mais escassas do que as do Titan, não há indicação sobre o tipo de barco, nem seu tamanho ou capacidade.

Não sabemos detalhes sobre a rota, sobre quanto tempo os migrantes ficaram em alto mar, não há confirmação acerca da origem ou o destino dos tripulantes. Não há detalhamentos sobre o quanto pagaram para atravessar o mar, quantos deles estavam fugindo da guerra, da fome ou de perseguições políticas ou religiosas.

Não sabemos o número de adultos e crianças. Se eles tinham algum tipo de equipamento de segurança, se esperavam encontrar alguém conhecido do outro lado. Em todas as notícias, escassas e repetitivas, há o número – muitas vezes inexato – de mortos e de sobreviventes. De onde partiram e de onde, provavelmente, queriam chegar. Em nenhuma delas há, sequer, um nome. Foram mais de 500 mortos.

Não. Nós não sabemos sequer um único nome.

A comoção é seletiva. A morte de imigrantes é quase invisível.

Em 2023 morreram 5 bilionários visitando o Titanic e mais de 500 imigrantes. Todos no mar. O que você sabe sobre eles?

Por Nayá Fernandes, da Equipe de Comunicação

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