No período de 6 a 10 de junho foi realizado o Mutirão de Regularização Migratória, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul. O esforço conjunto empreendido pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), a Polícia Federal e a Prefeitura Municipal de Caxias do Sul garantiu cidadania a 961 pessoas, com a concessão e atualização de documentos a imigrantes e refugiados que vivem na Serra Gaúcha.
Hermes Franklin Castro, 54, é venezuelano e é um dos beneficiados pelo evento. Agora, ele tem a documentação atualizada e acesso a todos os benefícios legais, como saúde, educação e trabalho. Ele chegou com a família – esposa, filha, genro e netos – ao Brasil em agosto de 2020. Desde então, todos vivem em Caxias do Sul.
“Eu vim pela Colômbia, passei pelo Equador e Peru, onde fiquei por um ano. Dali, vim para cá. Faz quase dois anos que estamos em Caxias. Somos agradecidos porque já estamos trabalhando. Nos acolheram com muito carinho, com muito amor nesta nação. Somos gratos a todos vocês, por nos ajudarem a ter toda nossa documentação regularizada”, relata Castro.
Mobilização de profissionais
Realizar um evento de cinco dias consecutivos, para cerca de mil pessoas, exige planejamento, organização e, em especial, engajamento, por se tratar de uma causa humanitária. No CAM, os trabalhos de articulação tiveram início em abril, junto à Polícia Federal (PF) e à Prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, à qual está vinculado o Centro de Informações ao Imigrante (CIAI).
“Quando fomos convidados para compor o grupo de trabalho aceitamos o desafio na hora, haja visto que estávamos cientes da necessidade dos migrantes e dos passivos de processos que aguardavam agendamento. Assim, buscamos unir forças com a prefeitura, para incluir as demandas das duas instituições. Logo, passamos a articular as ações para que fosse viabilizado essa importante ação”, destaca o advogado de Migrações do CAM, Adriano Pistorelo.
Apoio de voluntários
Durante o Mutirão, mais de 30 pessoas, entre funcionários do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), estagiários e voluntários estiveram diretamente envolvidos para o sucesso da ação. Além de orientação prévia sobre a documentação a ser reunida para a regularização, era necessário organizar as famílias que chegavam à Prefeitura de Caxias do Sul, garantir um acolhimento adequado e disponibilizar lanches enquanto as pessoas permaneciam no local.
Irmã Celsa Zucco, diretora do CAM, foi uma das pessoas que mobilizou diversas entidades, que aderiram prontamente ao seu chamado. Estiveram presentes a Cruz Vermelha de Caxias do Sul, apoiando no fluxo dos migrantes na Prefeitura; a Comunidade Terapêutica Esquadrão da Vida, de Farroupilha, fazendo os pães para o lanche e o café distribuídos de forma gratuita no local; e o Grupo Escoteiro Saint Hilaire, que arrecadou valores para a compra dos insumos do lanche, entre outros voluntários que foram individualmente doar seu tempo e talentos.
Um mês de ações e reflexões sobre migrantes e refugiados
Além do mutirão, houve, em junho, outros momentos importantes sobre a mobilidade humana. De 12 a 19 de junho, houve a 37ª Semana Nacional do Migrante. Com o tema “Migração e Saberes” e o lema “Escuta com Sabedoria e Ensina com a Prática”, o período serviu para refletir sobre como a inserção dos migrantes em novas realidades proporciona aprendizagens e de como, no espaço entre o escutar e o falar, pode ocorrer um enriquecimento recíproco.
O CAM e a Província Maria Mãe dos Migrantes, que representa a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas no Brasil, além da Universidade de Caxias do Sul formaram parceria para a live “Migrar é um Direito: Histórias de Integração”. No evento, foram convidados migrantes e refugiados representantes de Angola, Bolívia, Síria, Senegal, Turquia e Venezuela para relatarem suas experiências, desde a motivação da saída do país de origem até a chegada ao Brasil, com as dificuldades, superação de desafios e conquistas.
A causa migratória entrou em campo
Caxias do Sul, sede do CAM, tem entre suas riquezas o esporte. No futebol profissional, dois clubes levam o nome da cidade para todos os cantos do Brasil: Esporte Clube Juventude, pela Série A do Campeonato Brasileiro, e Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias, pela Série D.
Ambas agremiações aceitaram o convite do CAM e aderiram à ação que levou a causa migratória e do refúgio para as arquibancadas e para os gramados dos estádios Alfredo Jaconi (Juventude) e Centenário (Caxias). No dia 14 de junho, durante a partida Juventude X Santos, uma faixa com a frase “Migrar e se refugiar é um Direito Humano” foi exibida no intervalo, fazendo a volta em todo o estádio. Além dessa ação, o clube cedeu 25 cortesias para migrantes e refugiados apoiados pelo CAM, que prestigiaram o jogo com familiares e funcionários do Centro.
A ação se repetiu na partida entre Caxias x FC Cascavel, em 18 de junho. Na oportunidade, os próprios jogadores da SER Caxias entraram em campo, antes da disputa, carregando a faixa e exibindo-a para a torcida. A direção do clube também cedeu ingressos, e mais pessoas puderam assistir ao jogo.
A iniciativa teve o apoio institucional das agências da ONU para migração e refúgio, Organização Internacional para as Migrações (OIM) e ACNUR, respectivamente.