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São Carlos um formador que perpassa o tempo

“Honrar-vos-ei de chamar-vos de agora em diante, os missionários e as missionárias de São Carlos! São Carlos! Era, como disseram muito bem, um daqueles homens de ação que não hesita, não se divide, não volta atrás. Que, em cada ato atira-se com toda a força da própria convicção, com a toda a energia da própria vontade, com a totalidade do seu caráter com todo o seu ser e triunfam.

São Carlos! Exemplo maravilhoso de impávida constância, de generosa paciência, de ardente caridade, de zelo iluminado, incansável, magnânimo, de todas as virtudes que fazem de um homem, um verdadeiro Apóstolo de Jesus Cristo. Ele tem sede de almas. Não deseja senão almas, não pede senão almas, não quer senão almas: dá-me almas, continua dizer, tira-me o restante, e precisamente para ganhar almas, para Jesus Cristo, meu Deus! O que não fez, o que não suportou, o que não disse?

São Carlos! Este é um nome que o Missionário e Missionária não deveria escutar, sem se sentir inflamado, pelo mais nobre, pelo mais vivo entusiasmo sem se sentir, profundamente comovido… Queridos, queridas, espelhai-vos nele, recomendai-vos a ele, colocai nele toda a vossa confiança e tereis a certeza de sua proteção.”¹

A vivência radical da opção de seguimento a Jesus Cristo feita por São Carlos na juventude, assegurou a justiça e a retidão humana. Com fidelidade e princípios de sua profunda espiritualidade viveu o Evangelho na radicalidade. Fez de Jesus uma opção pessoal e uma norma de vida. O segredo de sua vida intensa de trabalho, era um amor total a Jesus Cristo. Deixou-se educar, formar e acompanhar por ELE. Amou e deixou-se amar. “A vela para iluminar os outros, deve consumir-se a si mesma”. São Carlos pôde assim falar, pois viveu a caridade heroicamente, fazendo-se tudo para todos. Desde criança, entregava, ao pai, os “benefícios” que recebia, próprios de seu estado clerical, para que fossem distribuídos aos pobres. Atitude virtuosa que aprendera com os pais, na família.

Quando cardeal em Roma e, particularmente, arcebispo em Milão, Carlos extravasa seu amor a Deus, servindo os irmãos. Organizou a caridade de tal modo que nenhuma categoria de necessitados fosse esquecida. Para todos, sem distinção, tinha gestos de consideração e de ajuda. Todas as misérias humanas o encontraram disponível ao ponto de desfazer-se de todos os seus bens e os de sua residência episcopal.

“Quantas obras para instrução dos pobres, para a educação dos jovens; quantos albergues para abrigar mendigos, abandonados, sem-teto, mães sozinhas, moradores de rua, prostitutas. Casas de saúde para doentes surgiram por sua iniciativa, comovendo o coração e seu povo para a vivência da caridade com todos os necessitados. Mas foi, especialmente, nos terríveis meses da peste e das freqüentes carestias que se manifestou o heróico amor de seu coração. Por nenhum instante se arrefeceu seu ardor, não obstante o perigo e o cansaço. Preocupava-se em assistir os atingidos pela peste, pela fome e pelo frio tanto espiritualmente quanto materialmente. Fez-se também, o promotor da caridade pública, recolhendo fundos para satisfazer as necessidades materiais dos milaneses, apelando a todos, para que se fizesse o possível e o impossível, a fim de amenizar as dores e os lutos. Instituiu, inclusive, às confrarias da caridade para assistência aos doentes agonizantes, pecadores pobres, em particular.

São Carlos entusiasma para a vivência da caridade através de seu exemplo. Seu modelo foi Cristo, o Bom Pastor. Seguiu seus ensinamentos, palmilhou suas pegadas, conformou sua vida ao do Senhor e, com Jesus, doou-se para a salvação do rebanho que lhe fora confiado, visando sempre e unicamente a glória de Deus”²

Um grande exemplo e ensinamento ele nos deixa, quando, ainda jovem, assume, com coragem e decisão, sua opção radical fundamental: Deus, primeiramente, e por ele devotar todas as suas energias em favor da reforma e santificação de sua Igreja. A todos, mas, principalmente aos jovens, ensina a alimentar um sonho de bem, um sonho virtuoso, ao qual consagra toda a existência e chega ao fim da vida, com a alegria de não a ter gastado inutilmente.

São Carlos sentiu a necessidade de aprimorar sus formação religiosa e humanística, bem como dos seus sacerdotes e a de todo o povo, para um crescimento pessoal, humano, religioso e social. Criou os seminários para a formação do clero. Insiste na formação pessoal, na atualização das motivações e adesão a Jesus Cristo na fidelidade ao projeto divino. Assume a missão confiada com espírito fraterno na unidade de diferenças, fazendo de sua vida um processo contínuo e transformador de sua formação, sempre atento ao Evangelho e à realidade de seu povo.

A experiência de Deus de São Carlos junto à miséria de seu povo fez reencontrar aquele seu olhar divino em todo lugar e sentir-se alcançado por ele continuamente. Captou seu amor em todas as circunstâncias da vida, expressou o olhar de compaixão, direcionou as criaturas necessitadas para que cada qual se sentisse alcançada e descoberta pelo amor de Deus. A capacidade de contemplar o divino só é possível na contemplação do humano em todo o seu mistério. São Carlos perpassou o tempo porque fez de seu tempo o tempo de Deus e de seus irmãos.

Graças à dimensão da fé “ninguém está sozinho e sozinha no caminho em direção ao monte santo, nem na formação inicial nem na permanente. E não apenas porque goza da aproximação física e moral de outras pessoas, mas porque com elas compartilha interesses, objetivos, apostolado e até os sentimentos. Os mesmos sentimentos do Filho!” (A. Cencini)³ A configuração com Jesus Cristo é “a meta que todas juntas nos encontremos unidas na mesma fé, e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser a mulher perfeita que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo” (Cf Ef. 4,13)⁴

Por Ir. Nelí Basso, mscs, da Equipe de Comunicação


¹ Scalabrini e uma Voz atual – página 445 e 446
² São Carlos um exemplo de vida – páginas 37 e 38
³ Os sentimentos dos Filho, Amedeo Cencini página 339
⁴ Carta aos Efésios, 4, 13

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