Relatório da Conferência Episcopal Italiana aponta cerca de 1.800 mortes de migrantes no Mediterrâneo desde janeiro
De acordo com dados do Relatório 2022 sobre o Direito de Asilo da Fundação Migrantes, órgão da Conferência Episcopal Italiana, atualmente existem 103 milhões de refugiados em todo o mundo. O número equivale a 1 a cada 77 habitantes e, de acordo com o estudo, é mais que o dobro de 10 anos atrás, quando o observado era 1 a cada 167 habitantes. O relatório foi apresentado na terça-feira, 13, em evento na Universidade Gregoriana.
O documento aponta que, desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro, a Europa demonstrou que pode acolher mais de 4,4 milhões de refugiados do país que obtiveram proteção temporária, “sem perder nada em termos de segurança e bem-estar”. No entanto, “fez todo o possível para manter algumas dezenas de milhares de pessoas que necessitam de proteção de outras rotas e de outros países fora das suas fronteiras”, diz o Relatório, se referindo aos bloqueios de migrantes da África e Oriente Médio.
A Fundação Migrantes reforça ainda que, atualmente, a “população refugiada está abaixo da média europeia” na Itália, onde muito se afirma estar acontecendo uma “invasão de migrantes”. Antes do início da guerra na Ucrânia, até o final de 2021, eram 145 mil refugiados em território italiano, enquanto a Alemanha registrava 1.256.000 e a França abrigava 500 mil.
O relatório dá destaque às estimativas crescentes de mortes e desaparecimentos de migrantes nas rotas até a Europa. De acordo com o documento, até o final de outubro de 2022 “a estimativa de refugiados e migrantes mortos e desaparecidos no Mediterrâneo é de pouco menos de 1.800”, um número que pode ser muito maior devido a naufrágios nos quais desaparecem todos os ocupantes das embarcações.
Segundo o texto, houve um “aumento impressionante de mortes e desaparecimentos na perigosa rota do Atlântico ocidental para as Canárias: de um número estimado de 877 vítimas em 2020 para 1.126 em 2021, mais 28%”. Recentemente, três migrantes nigerianos chegaram à ilha de Gran Canaria agarrados à lâmina do leme de um navio após uma viagem de onze dias no mar, que foi iniciada em Lagos, Nigéria.
Durante a apresentação do documento, o presidente da Conferência Episcopal Italiana, Cardeal Matteo Zuppi, ressaltou que o relatório anual sobre o Direito de Asilo “nos ajuda a compreender as reais proporções e devemos sempre dizer que nunca se trata apenas de números, há sempre muito sofrimento por trás disso”. Para ele, não se pode habituar a certos dados e números, “como os 1,8 mil mortos no Mediterrâneo, 1.295 na rota entre Itália e Malta”, disse.
O Cardeal ressaltou, ainda, a dor de pensar em uma Europa de direitos iguais para todos, pois, segundo ele, “os dados mostram que nem sempre houve uma aplicação uniforme em todos os lugares”.
Por Amanda Almeida, da Equipe de Comunicação Virtual