De acordo com uma análise da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) divulgada nesta sexta-feira, 22, mais de meio milhão de pessoas em Gaza estão sofrendo com a fome, marcada por inanição generalizada, miséria e mortes evitáveis, com probabilidade de que esta situação se espalhe para as províncias de Deir Al Balah e Khan Younis nas próximas semanas.
Em declaração conjunta, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a UNICEF, o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacaram “a extrema urgência de uma resposta humanitária imediata e em larga escala”, dados os crescentes relatos de mortes por fome e a piora nos níveis de desnutrição aguda, “com centenas de milhares de pessoas passando dias sem ter o que comer.”
As agências sublinharam que “um cessar-fogo imediato e o fim do conflito são cruciais para permitir uma resposta humanitária desimpedida e em larga escala que possa salvar vidas” e apontaram sua preocupação com as consequências da ameaça de uma ofensiva militar intensificada na Cidade de Gaza e de uma possível escalada do conflito.
Segundo o relatório do IPC, desde março, quando acabou o cessar-fogo, a população de Gaza passou a enfrentar uma escalada de violência, que atingiu o auge em julho, com 3.700 pessoas mortas e 14.000 feridas. De acordo com o documento, cerca de 800.000 pessoas foram deslocadas março, incluindo quase 350.000 após a intensificação das hostilidades em maio. “Essa onda de deslocamento obrigou as pessoas a abandonar os poucos recursos restantes, interrompeu ainda mais o acesso a serviços essenciais de saúde e agravou as necessidades humanitárias”, afirma o documento.
O relatório aponta que, entre 16 de agosto e 20 de setembro, espera-se que as condições piorem, com cerca de 641.000 pessoas (quase um terço da população) enfrentando situações catastróficas (Fase 5 do IPC), enquanto o número de pessoas em Emergência (Fase 4 do IPC) provavelmente chegará a 1,14 milhão (58% da população). O documento prevê que até junho de 2026 pelo menos 132.000 crianças menores de cinco anos sofram de desnutrição aguda, o que equivale ao dobro das estimativas para maio de 2025.
A declaração da FAO, UNICEF e PMA destacou que quase dois anos de conflito, deslocamentos repetidos e severas restrições ao acesso humanitário, além do colapso dos sistemas de saúde, saneamento e mercado, levaram as pessoas à fome.
“A desnutrição entre crianças em Gaza está se acelerando a um ritmo catastrófico”, destacou o comunicado, que pontuou que, apenas em julho, mais 12.000 crianças foram identificadas com desnutrição grave, o maior número mensal já registrado e um aumento de seis vezes desde o início de 2025.
“A nova avaliação relata a piora mais grave desde que o IPC começou a analisar a insegurança alimentar aguda e a desnutrição aguda na Faixa de Gaza, e marca a primeira vez que uma fome foi oficialmente confirmada na região do Oriente Médio”, afirmou a declaração, que pontuou, ainda, que os suprimentos de alimentos e ajuda humanitária que chegam a Gaza aumentaram um pouco desde julho, “mas continuam muito insuficientes”.
As agências da ONU enfatizaram, ainda, a importância de um cessar-fogo imediato e sustentado para interromper a matança, permitir a libertação segura de reféns e permitir o acesso de assistência à população de Gaza.
Por Amanda Almeida, do Serviço de Comunicação, com informações da UNICEF