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Transferências vividas por nossa Cofundadora

Celebrando os 130 anos da Congregação
e da chegada da Bem-aventurada Assunta Marchetti

Irmã Leocádia Mezzomo
Jundiaí, SP, 2025

Os primeiros êxodos da infância

Maria Assunta, nascida em Lombrici, começou a viver pequenos êxodos desde a infância. Aos 8 anos, foi morar com a avó em Viareggio e, pouco depois, em La Fabbrica di Camaiore. Pode-se dizer que cada mudança tinha suas riquezas e seus desafios. Percebe-se que Deus, em sua providência, guiava a história dessa sua filha, e isso a ajudou a não ser excessivamente rígida nem apegada a um estilo de vida estável e a um lugar fixo.

1895–1907 – De Camaiore, Itália, a São Paulo, Brasil

Após a longa travessia do oceano, em 20 de novembro chegaram a Vila Ipiranga, São Paulo, SP e já poderemos vê-la, em ação, no Orfanato Cristóvão Colombo. Tendo deixado definitivamente a Itália em 27 de outubro de 1895, a missão expandiu seus horizontes: já não se tratava apenas do “orfanato familiar” a ser cuidado em Lombrici, ou do povoado de La Fabbrica, di Camaiore. Agora, a missão se tornava maior, imensa! No mês passado, no navio, junto com mais de mil compatriotas, viveu sua missão como migrante entre migrantes, com o amor de Deus que se manifestava, dia após dia, àqueles que buscavam uma vida mais digna além-mar. As necessidades dos outros eram muitas, variadas e exigentes, e ela estava sempre disponível.

  • Iniciaram a missão de serem mães dos órfãos e abandonados, na Vila Ipiranga em São Paulo, dividindo entre si, desde logo, as responsabilidades: à mãe, Carolina Marchetti, foi confiada a função de superiora da comunidade; à Irmã Assunta, a de ecônoma; à Irmã Ângela Larini, a de enfermeira; e à Irmã Maria Franceschini, a responsabilidade pela formação das futuras religiosas que Deus enviaria à Congregação.

O trabalho era intenso e as forças das irmãs insuficientes para responder às muitas necessidades. Além do trabalho, a pobreza e os poucos recursos para alimentar tantos órfãos eram um grande problema. Mas o Padre José (Giuseppe) provia tudo.

Naquela época, o Brasil foi acometido por uma feroz epidemia de febre tifoide, que atingiu o Padre José enquanto ele tentava, a todo custo, ajudar os italianos espalhados pelas fazendas. Infectado pelo vírus, faleceu poucos dias depois, em 14 de dezembro de 1896. A tristeza pela partida prematura do irmão sacerdote e diretor do orfanato foi um golpe duro demais para Assunta. E também para sua mãe Carolina, que, em 1897, retornou à pátria com os filhos menores.

No dia 14 de novembro de 1899, faleceu Irmã Ângela Larini, com apenas 24 anos de idade, e, dois anos depois, em 22 de abril de 1901, faleceu Irmã Maria Franceschini, com apenas 28 anos. As duas companheiras de Irmã Assunta partiram para o céu em decorrência da tuberculose. Com o coração dilacerado, mas serena e fortalecida de ânimo, Madre Assunta continuou sua missão, tendo jurado serviço eterno ao Senhor e à Missão, como Serva dos Órfãos e Abandonados no Exterior.

Com o apoio do Padre Faustino Consoni, substituto do saudoso irmão Giuseppe, e de outras novas irmãs, continuou a servir com o amor que Deus derramava em seu coração. Alimentava-se da esperança de que outras irmãs viriam da Itália para ajudá-la, como havia dito o Bispo Scalabrini na hora de sua partida solene, em 25 de outubro de 1895.

No mês de setembro de 1900, chegaram seis irmãs da Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração da Madre Clélia Merloni.

Madre Assunta carregava no coração e na oração o peso das dores causadas pelas religiosas vindas da Itália, que queriam fazê-la mudar de carisma, enquanto ela se sentia missionária de São Carlos Borromeo, participante da mesma missão dos sacerdotes.

Por graça, certo dia, enquanto caminhava pelos corredores do Orfanato Cristóvão Colombo do Ipiranga, encontrou-se com o Bispo Fundador, Mons. João Batista Scalabrini, que lhe disse: “Coragem, Assunta. Morrereis Missionária de São Carlos Borromeo”. Era o ano de 1904.

Essas palavras infundiram na alma de Madre Assunta uma nova esperança. Uma esperança que permaneceu viva na constante confiança que ela tinha no Sagrado Coração de Jesus, pois só três anos depois pôde ver realizado o desejo de continuar sendo Irmã de São Carlos e fortalecer-se no Carisma Scalabriniano. Com a ajuda do Padre Consoni e do Bispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, finalmente, em 22 de setembro de 1907, foi feita a separação dos dois carismas.

1907 – 1911 Madre Assunta e algumas coirmãs passam a viver no Orfanato feminino da Vila Prudente

Com essa separação, Madre Assunta e outras Irmãs de São Carlos passaram a viver na seção feminina do orfanato na Vila Prudente, e Irmã Assunta assumiu, em 1907, o cargo de Superiora da comunidade. Ali, ocupava-se de todas as tarefas, especialmente da educação e formação humana e espiritual das pequenas órfãs. Madre Assunta fazia questão de ter o privilégio de lidar com os casos mais difíceis ou até mesmo mais repugnantes. Dizia: “Basta um sorriso para recompensar os cuidados oferecidos a essas pequenas inocentes.” E voltava com alegria ao trabalho. E mais: de dia e de noite encontrava tempo especial para estar com o Esposo Celeste, confiando-lhe as alegrias e sofrimentos de cada dia.

O bispo de São Paulo estava preocupado com a situação canônica das irmãs que cuidavam dos órfãos e quis regularizar sua condição. Por isso, pediu que fizessem o noviciado regular. Nomeou como mestra de noviças a Irmã Fulgenzia Huysmans, religiosa belga das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, como superiora e Mestra do noviciado.

Em abril de 1910, Madre Assunta, com suas companheiras, iniciaram o terceiro noviciado. A mestra encontrou em Irmã Assunta a noviça exemplar, religiosa madura na fé e sábia nas obras. Em 1º de janeiro de 1912, fez, publicamente, sua profissão perpétua e recebeu o anel de Esposa de Cristo na capela Nossa Senhora de Lourdes, na seção feminina do Orfanato Cristóvão Colombo. Nesta ocasião, foi introduzido na Congregação o uso do anel. E, no mês de maio, atendendo ao pedido da mestra das noviças, o Arcebispo de São Paulo nomeou Irmã Assunta Marchetti Superiora Geral da Congregação para o sexênio 1912–1918.

É bom recordar que, mesmo como Superiora Geral, continuava vivendo no Orfanato Cristóvão Colombo da Vila Prudente, e todo o tempo livre das atividades próprias do governo geral ela dedicava às órfãs, aos trabalhos domésticos, colaborando também no jardim e na horta.

E como a caridade sempre encontra meios e oportunidades para fazer o bem, ela organizou uma espécie de ambulatório onde os pobres doentes que batiam à porta do orfanato encontravam aqueles cuidados que a pobreza lhes impedia de receber num hospital. Madre Assunta, com grande alegria, os acolhia.

1912–1918 – Madre Assunta assume como Superiora Geral

Madre Assunta é Superiora Geral, continuando a viver e a desempenhar essa nova função na mesma casa, na seção feminina do Orfanato de Vila Prudente, São Paulo. Esse pequeno Instituto conservava o vigor do Espírito que o havia feito nascer.

Sob a orientação sábia de Madre Assunta, iniciou-se a expansão da obra dos orfanatos para além dos muros. Novas missões foram abertas, sempre fiéis ao serviço dos migrantes italianos: em São Bernardo do Campo, SP, para a formação da juventude; em Itu, uma casa de acolhida para os pobres, entre outras iniciativas.

Atendendo ao pedido de missionárias para os migrantes, a pequena Congregação ultrapassou os limites do Estado de São Paulo. Em 1915, a Superiora Geral, Madre Assunta, enviou as primeiras missionárias a Bento Gonçalves, RS, região altamente povoada por migrantes italianos. Ela, mulher de mente aberta às necessidades do campo educativo, para responder melhor às demandas recebidas, enviou as irmãs a estudar, para se prepararem e responder com mais competência aos desafios do tempo.

1918–1921 – Bento Gonçalves, Nova Brescia, Nova Vicenza

Encerrado seu período como Superiora Geral, em 1918, foi transferida para Bento Gonçalves, RS, e pouco depois para Nova Brescia, no Sul do Brasil, onde viveu de forma extraordinária sua vocação de missionária de São Carlos junto aos conterrâneos, desprovidos de médico, escola e outros recursos. Ela tornou-se a doutora do lugar e fundou a Escola Sagrado Coração de Jesus, onde muitos meninos e meninas puderam frequentar a escola primária.

Infelizmente, por mal-entendidos, permaneceu pouco tempo nesse povoado de imigrantes provenientes de Brescia. Em 1921, foi enviada a Nova Vicenza, hoje Farroupilha, RS. Ali permaneceu poucos meses e retornou a São Paulo para cuidar da mãe doente. Ao mesmo tempo, foi designada para servir aos idosos numa pequena cidade próxima de São Paulo.

1921–1924 – Missão no Asilo Barão do Rio Branco em Jundiaí, SP

Foi destinada a ser Superiora da nova comunidade em Jundiaí, não muito longe da capital paulista, com o objetivo de cuidar dos idosos pobres, dos andarilhos abandonados nas ruas da cidade. A Madre assumiu a direção do asilo Barão do Rio Branco.

Não temos muitas informações desse período, mas um testemunho anônimo relata que ela sabia ser muito compreensiva e exigente com aquele povo sofrido. Esse asilo, que cuidava dos idosos, estava localizado próximo à Catedral Nossa Senhora do Desterro. Era composto por diversas casinhas construídas em meio a um pomar: os idosos, naquele tempo, desfrutaram dos cuidados de Madre Assunta e suas irmãs, e da bondade dos frutos ali cultivados. Após pouco menos de três anos nessa missão, foi enviada para dar abertura a uma nova obra caritativa em Monte Alto, SP.

1924–1926 – É transferida para a Santa Casa de Misericórdia, em Monte Alto, SP

Assumiu uma nova missão em Monte Alto, SP, na Santa Casa de Misericórdia, onde eram tratados os doentes, entre os quais muitos de origem italiana.

Em 1925, começou a se manifestar com mais força a chamada “crise das Clementinas”. Foi um período delicado para Madre Assunta, pois sua querida Congregação teve de enfrentar uma nova e dura prova de identidade. Em Monte Alto, não chegavam muitas notícias, o que tornou esse tempo ainda mais marcado pelo silêncio e sofrimento, que só Jesus Sacramentado conhecia profundamente.

As autoridades da Igreja consideraram necessário afastar a então Superiora Geral, Madre Maria da Divina Providência, que estava causando desordem entre as irmãs — foi a crise das Clementinas. A seguir era necessário um capítulo geral. Mas as autoridades responsáveis, decidiram que não houvesse um verdadeiro capítulo geral, como previsto pelas Constituições. Cada irmã foi convocada a votar, por meio de uma cédula, que uma vez compilada devia ser enviada à Congregação Consistorial, em Roma.

Desse processo resultou a eleição de Madre Assunta Marchetti. Ela resistiu a aceitar, pois os tempos eram difíceis, as situações muito delicadas, e havia divisões até mesmo dentro da Congregação.

1927–1935 – Madre Assunta é eleita Superiora Geral

Em obediência, ela retorna a São Paulo como Superiora Geral e passa a residir na casa das meninas órfãs, em Vila Prudente. Em resposta ao Visitador Apostólico, Dom Egidio Lari, disse seu “sim” como obediência à voz de Deus que a chamava para esse dever.

Forte e serena, comprometeu-se profundamente a fazer o melhor pela sua amada Congregação, sempre confiante no Sagrado Coração e na boa vontade das coirmãs.

Durante seu segundo mandato, muitas novas fundações missionárias foram realizadas e houve um grande incremento vocacional.

Em maio de 1935, numa relação apresentada ao Capítulo Geral, atribuiu o mérito do crescimento ocorrido nesse período às coirmãs, a Dom Egidio Lari e a Dom Benedetto Aloisi Masella.

Durante esse sexênio, as novas fundações foram abundantes:

  • Hospital Tacchini – Bento Gonçalves, RS
  • Nova sede do noviciado – Rio Grande do Sul
  • Colégio Santa Teresinha – Anta Gorda, RS
  • Colégio São José e Hospital São Camilo – Roca Sales, RS
  • Hospital Dr. Renato Toledo Silva – Socorro, SP
  • Colégio Pio X – Muçum, RS
  • Pensionato São João Bosco – Caxias do Sul, RS
  • Sanatório São José – Porto Alegre, RS

Além disso, houve o saneamento das finanças, a quitação de todas as dívidas, e o início dos estudos superiores para as irmãs destinadas ao magistério.

O número de vocações aumentou: de 48 irmãs no início do sexênio, passaram a ser 114 até maio de 1934 e havia 31 noviças e 18 postulantes. Nesta data já se estavam fazendo as tratativas para abrir comunidades na Itália e nos Estados Unidos. Deo Gratias!

Para concluir seu segundo mandato como Superiora Geral, preparou cuidadosamente os relatórios a serem apresentados ao Capítulo e convidou todas as irmãs à oração para que pudessem realizar um Capítulo, segundo a santa vontade de Deus.

1935–1947 – Última missão como enfermeira e administradora na Santa Casa de Misericórdia, de Mirassol, SP

Após esse longo e fecundo período como Superiora Geral, foi enviada à Santa Casa de Misericórdia de Mirassol, SP. Nessa casa de saúde, foi uma exímia enfermeira e administradora do hospital, junto com o diretor médico.

Nessa pequena cidade do norte paulista, celebrou as bodas de ouro de profissão religiosa e da fundação da Congregação.

Em Mirassol, seu estado de saúde agravou-se devido a um acidente: ao tentar acalmar um doente agitado, um ferro se soltou da cama e perfurou uma veia de sua perna, que já era doente. A ferida que se formou nunca mais cicatrizou. Mesmo com essa cruz, continuou a servir, até que o administrador da Santa Casa solicitou, por escrito, uma irmã que pudesse ajudar a “rev.ma Madre Assunta, já bastante enfraquecida”.

A Superiora Geral, Irmã Borromea Ferraresi, imediatamente providenciou o traslado de Madre Assunta, indo ela mesma buscá-la. Assim, ao final de 1947, ela retornou a São Paulo para receber melhores cuidados.

Embora tenha passado um tempo no hospital, a ferida da perna gangrenou, obrigando à amputação de um dedo do pé, e forçando-a a viver em cadeira de rodas, na casa das órfãs em Vila Prudente, como tanto desejava.

1948 – Últimos meses da existência terrena: Deus respondeu às suas preces

“Peço tanto ao bom Deus que me faça morrer entre minhas crianças.” E assim aconteceu. Ela marcou, com seu estilo de vida humilde, o povo dessa cidade, entre os quais muitos filhos de italianos que buscavam o pão nas grandes plantações de café e algodão, onde eram uma espécie de escravos brancos, oferecendo sua força de trabalho em troca do mínimo para sobreviver.

Serena e confiante, deixou este mundo, em 1º de julho de 1948, entre suas irmãs e a ternura das meninas que corriam pelos corredores do Orfanato.

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