Quase 14.600 migrantes morreram em rotas migratórias no continente africano desde 2014
De acordo com o Relatório sobre a Migração na África, lançado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Comissão da União Africana (CUA) na terça-feira, 26, os conflitos e a violência continuam sendo as principais causas de deslocamento na África Subsaariana, seguidos dos desastres climáticos. O relatório analisa dados do ano de 2022.
O relatório destaca que a migração acontece principalmente dentro do continente africano, e não além das suas fronteiras. Ainda, o relatório enfatiza as interligações entre os fatores de migração no continente, incluindo as disparidades econômicas, a instabilidade política e os efeitos das mudanças climáticas.
“A seca prolongada no Chifre da África e as graves inundações sazonais em todo o continente conduziram evidentemente a deslocações internas recorde em 2022, aumentando o fato de muitos países africanos terem vivido conflitos e eventos climáticos ao mesmo tempo”, afirma a OIM.
A Diretora Geral da OIM, Amy Pope, ressalta que os conflitos, a violência e as catástrofes induzidas pelo clima são os principais fatores de deslocamento não apenas na África, mas em todo o mundo. “Devemos adotar abordagens estratégicas e inovadoras proativas para antecipar os movimentos das pessoas, através da implementação de sistemas de alerta precoce e da procura de soluções duradouras”, afirmou.
De acordo com o relatório, ao contrário de outras partes do mundo, novos conflitos aumentaram o deslocamento na África Subsaariana, onde pelo menos 9 milhões de pessoas foram deslocadas em 2022, enquanto os eventos climáticos deslocaram cerca de 7,4 milhões.
Segundo os dados do relatório, no ano de 2022 os principais destinos dos migrantes na África foram Uganda, que recebeu 1,5 milhão de pessoas, o Sudão, com 1,1 milhão, a Etiópia, com 882 mil, o Chade, com 598 mil, e o Quênia, com 573.000. O documento destaca, ainda, que Uganda e Sudão estiveram, naquele ano, entre os 10 principais países de destino do mundo, ocupando a sexta e a oitava posição, respectivamente.
Em 2022, Uganda recebeu, principalmente, sul-sudaneses (57%) e congoleses (32%), enquanto o Sudão recebeu, majoritariamente, cidadãos sul-sudaneses (71%) e eritreus (12%), a maioria dos quais estava fugindo de conflitos prolongados em seus países de origem.
O relatório sublinha, ainda, que em 2022 foram registrados 16,4 milhões de deslocamentos internos na África, o que que representa 27% do total de deslocamentos internos registrados globalmente naquele ano (60,9 milhões).
“Os deslocamentos internos quase dobraram desde 2019 (8,2 milhões) e atingiram um recorde histórico em 2022, aumentando 16% em comparação com 2021”, afirma o relatório, que destaca que pelo menos 9 milhões dos deslocamentos de 2022 aconteceram por causa de conflitos e violência, enquanto os outros 7,4 milhões aconteceram por desastres naturais, como secas, inundações e tempestades.
Em 2022, os países africanos com maior número de deslocamentos internos foram a República Democrática do Congo (RDC), com 4,4 milhões, a Etiópia, com 2,9 milhões, a Nigéria, com 2,6 milhões, a Somália, com 1,7 milhões e o Sudão do Sul, com 933 mil. Do total de deslocados na Nigéria em 2022, pelo menos 2,4 milhões tinham relação com desastres naturais, o número mais alto em todo o continente africano naquele ano e o quinto maior em todo o mundo, atrás apenas do Paquistão, Filipinas, China e Índia.
Rotas migratórias do continente africano registram quase 14.600 mortes desde 2014
De acordo com dados do projeto Missing Migrants, da OIM, desde 2014 pelo menos 14.590 migrantes morreram ou desapareceram em diversas rotas migratórias no continente africano. Em 2022, ano abordado pelo relatório, o total foi de 1.031 mortes ou desaparecimentos registrados, enquanto que em 2023 foram registradas 1.866 ocorrências. Desde o início de 2024, pelo menos 205 migrantes morreram ou desapareceram no continente.
Segundo os dados do projeto, a rota africana com maior número de mortes e desaparecimentos registrados é a travessia do Deserto do Saara, com 6.204 registros desde 2014. Em seguida, figuram a rota através do Oceano Atlântico até as Ilhas Canárias, com 4.158, a Rota Oriental, com 993, a rota até a África do Sul, com 482, e as travessias marítimas até Mayotte, com 284.
Acesse o relatório na integra em: https://publications.iom.int/books/africa-migration-report-second-edition
Por Amanda Almeida, da Equipe de Comunicação