Pelo menos 4.160 migrantes morreram em rotas migratórias de todo o mundo em 2024
O Papa Francisco dedicou sua catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, 28, ao drama dos migrantes e refugiados, com o título “Mar e deserto”. O Pontífice interrompeu seu ciclo de catequeses habitual sobre o Espírito Santo para “pensar nas pessoas que – até neste momento – atravessam mares e desertos para chegar a uma terra onde viver em paz e segurança”. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, mais de 67 mil migrantes morreram em todo o mundo desde 2014.
Francisco destacou que as palavras “Mar e deserto”, do título de sua catequese, se repetem nos testemunhos que recebe de migrantes e pessoas que se comprometem a atuar em seu socorro. “E quando digo “mar”, no contexto das migrações, refiro-me também ao oceano, ao lago, ao rio, a todas as massas de água traiçoeiras”, onde tantos se arriscam para chegar à sua meta.
O mesmo, ressaltou o Papa, vale para “deserto”, que “não é apenas de areia e dunas, ou rochoso, mas também todos os territórios inacessíveis e perigosos, como as florestas, as selvas, as estepes, onde os migrantes caminham sozinhos, abandonados a si próprios”. Francisco sublinhou, ainda, que, hoje em dia, as rotas migratórias são frequentemente marcadas por mares e desertos, que, para muitas pessoas são fatais.
O Papa recordou as várias intervenções realizadas sobre o Mediterrâneo, que considera “emblemático”. “O mare nostrum, lugar de comunicação entre povos e civilizações, tornou-se um cemitério. E a tragédia é que muitas, a maioria destas mortes, poderiam ter sido evitadas”, afirmou.
“É preciso dizer claramente: há quem trabalhe sistematicamente com todos os meios para afastar os migrantes – para afastar os migrantes. E isto, quando é feito de modo consciente e responsável, é um pecado grave”, ressaltou Francisco, que recorda a passagem bíblica de Êxodo 22, 20: “Não maltratarás o estrangeiro nem o oprimirás”, destacando que “o órfão, a viúva e o estrangeiro são os pobres por excelência que Deus sempre defende e pede para defender.”
Francisco lembrou, ainda, que alguns desertos também se tornaram cemitérios de migrantes. “E até aqui, muitas vezes, não se trata de mortes “naturais”. Não! Às vezes foram levados para o deserto e abandonados lá. Todos conhecemos a fotografia da mulher e da filha de Pato, que morreram de fome e sede no deserto. Na era dos satélites e dos drones, há homens, mulheres e crianças migrantes que ninguém deve ver: escondem-nos. Só Deus os vê e ouve o seu clamor. E esta é uma crueldade da nossa civilização.”
O Papa destacou, ainda, que o mar e o deserto são, também, “lugares bíblicos repletos de valor simbólico. São cenários muito importantes na história do êxodo, a grande migração do povo conduzido por Deus através de Moisés, do Egito para a Terra prometida”, recordando que esses lugares testemunham o drama do povo que foge da opressão e da escravidão.
Francisco sublinhou que os migrantes não deveriam estar nos mares e desertos mortais, mas “infelizmente estão”. Ele ressalta que, no entanto, não é através de leis mais restritivas que serão evitadas essas migrações perigosas. “Ao contrário, só o conseguiremos ampliando as rotas de entrada seguras e regulares para os migrantes, facilitando o refúgio para quantos fogem das guerras, da violência, da perseguição e de muitas calamidades”, afirmou, pontuando a necessidade de unir forças para combater o tráfico de seres humanos, “para impedir os traficantes criminosos que exploram sem piedade a miséria dos outros.”
O Pontífice finalizou a Audiência Geral com um reconhecimento e agradecimento a todos os que trabalham no socorro aos migrantes nas rotas migratórias. “Estes homens e mulheres corajosos são sinal de uma humanidade que não se deixa contagiar pela cultura negativa da indiferença e do descarte: o que mata os migrantes é a nossa indiferença, a atitude de descarte”, destacou.
Mais de 67 mil migrantes mortos desde 2014
De acordo com o projeto Migrantes Desaparecidos, da Organização Internacional para as Migrações (OIM), desde 2014, pelo menos 67.510 migrantes morreram ou desapareceram em rotas migratórias de todo o mundo, sendo a maioria (30.245) no Mediterrâneo. Desse total, pelo menos 28,055 pessoas não tiveram seus corpos encontrados.
Em 2024, os dados apontam que pelo menos 4.160 migrantes morreram ou desapareceram em rotas migratórias, a maioria no Mar Mediterrâneo, que tem 1.341 registros, seguido pelas rotas do continente africano, com 1.076.
Por Amanda Almeida, da Equipe de Comunicação