Na perspectiva cristã, a vida humana é um dom recebido por Deus! Ela se desenvolve como um projeto entre Deus e o ser humano. Recebemos esse dom imerecidamente, por isso a vida deve ser vivida como uma resposta a essa dádiva. Em todas as dimensões da vida humana, o inefável tem possibilidade de acolhida e manifestação. O conceito de algo ser inefável nos ensina sobre a limitação humana em compreender totalmente o divino. Isso reforça a ideia de que a fé não depende apenas do que podemos entender ou explicar, mas também do que sentimos e vivenciamos em nossa relação de dependência e autonomia com Deus. Essa experiencia aberta, de ser e estar, é chamada a uma esperança que transcende a nossa finitude. Esse ano, através do ano santo/jubilar, a Igreja nos convida a sermos esperança para uma igreja aberta a toda a humanidade.
Esperança-esperante, esse é um conceito muito bem explicitado pelo teólogo Juan Alfaro. Neste conceito, Alfaro fundamenta a sua compreensão de que todo ser humano é aberto ao horizonte ilimitado: o futuro transcende a nossa história, porém, se inicia nela com seus limites, por isso, é esperança que espera. A esperança humana sempre se afirmou a si mesma mais intensamente diante de experiências que pareciam significar completa derrota, acima de tudo, diante da derrota final da morte. Assim as manifestações mais profundas da esperança devem ser encontradas em gestos de coragem feitos em desafio à morte.
A coragem, naturalmente, pode ser exibida por indivíduos engajados em qualquer tipo de causa boa, ruim ou indiferente. A causa não é justificada pela coragem de seus proponentes. Afinal, para cometer algumas maldades há que ter muita coragem! O tipo de coragem em que estou aqui interessado está ligado às esperanças de criação, justiça ou compaixão humanas; isto é, ligada a outros gestos da humanidade, por exemplo: o artista que, apesar de todos os contratempos e mesmo sem saúde, luta para terminar seu ato criador; quem arrisca sua vida para defender ou salvar vítimas inocentes da opressão; quem sacrifica seus próprios interesses e conforto para vir em ajuda de seus companheiros aflitos. Não há necessidade de ilustrar o ponto com mais exemplos. É o bastante dizer que é este tipo de coragem e esperança que deve marcar o nosso peregrinar em mais um ano novo/santo/jubilar.
Nossa verdadeira esperança de vida é despertada e sustentada e finalmente cumprida pelo grande mistério divino que está acima e em torno de nós, mais próximo de nós do que nós mesmos poderíamos estar. Ele vem ao nosso encontro como a grande promessa de nossa vida e deste mundo: Nada será em vão! Deparamo-nos com ele ao mesmo tempo no chamado à vida: “Vivo, e também vós vivereis” (Jo 14,19). Somos convocados para essa esperança, e esse chamado muitas vezes soa como uma ordem: uma ordem para resistir contra a morte e contra os poderes da morte, e uma ordem de amar a vida e valorizá-la. Qualquer vida, a vida comunitária ou social, ou seja: a vida inteira.
Por Wellington da Silva de Barros