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“Lutamos pela garantia básica de direitos humanos para as pessoas afegãs refugiadas”, afirma Miguel Freire, coordenador do Coletivo Frente Afegã

Confira a entrevista completa:

Miguel Freire Couy, 22 anos, é estudante de Ciências e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC e coordenador do Coletivo Frente Afegã. Ele concedeu esta entrevista durante uma de suas visitas ao Aeroporto de Guarulhos, onde refugiados afegãos estão acampados há meses. Na quinta-feira, 28, o Coletivo recebeu o comunicado de que membros da Secretaria Nacional de Justiça do Governo Federal visitariam o local para fornecer atendimento necessário aos refugiados.

O ministério da Justiça publicou, também na quinta-feira, 28, uma nota sobre os refugiados afegãos acampados no Aeroporto de Guarulhos (SP). No texto, o Ministério se diz “sensível à situação” e esclarece que vem acompanhando desde o início do ano a situação.

“Estão sendo realizadas reuniões interministeriais com diversos órgãos da sociedade civil, das polícias e do poder judiciário para solucionar o problema. E, diante deste novo quadro de emergência, o MJSP, por meio da Secretaria Nacional de Justiça (Senajus), envia, nesta quarta-feira (28), grupo de servidores da pasta para trabalharem na gestão da crise emergencial, coordenando e fornecendo o atendimento necessário neste momento”, afirma a nota.

Confira a entrevista completa com Miguel Couy, do Coletivo Frente Afegã.

Scalabrinianas – Quantos afegãos estão acampados no aeroporto de Guarulhos?
Coletivo Frente Afegã –
Na noite do dia 25/06/2023 contabilizamos 206 refugiados afegãos, dos quais 48 são mulheres e 34 crianças. No dia 28/06 contabilizamos 170, pois a prefeitura está realizando acolhimento.

Scalabrinianas – Desde quando começaram os acampamentos?
Coletivo Frente Afegã – O acampamento começou em setembro do ano passado, no início da emissão descoordenada de vistos humanitários por parte de embaixadas brasileiras, principalmente no Irã e Paquistão com as políticas públicas de assistencialismo direcionadas à pessoa migrante e refugiada.

Scalabrinianas – Há imigrantes de outros países junto a eles?
Coletivo Frente Afegã –
Em algumas ocasiões alinhadas com o Posto Humanizado de Atendimento ao Migrante, recebemos e alojamos temporariamente pessoas em situação migratória ou com problemas em retornar ao seu país. Mas eles precisam se manter em outra área de acolhimento no próprio aeroporto, porque já tivemos alguns casos de conflitos, principalmente culturais e religiosos

Scalabrinianas – Como os refugiados relatam a saída de seu país e chegada ao Brasil?
Coletivo Frente Afegã –
A grande maioria, primeiramente, vende praticamente tudo o que possuía em sua terra natal e foge – em muitos casos – clandestinamente, para países vizinhos como Paquistão e Irã para contatar a embaixada brasileira lá e começar o extenuante processo de obter o visto humanitário. É um processo que pode durar meses a depender da demanda da embaixada. Enquanto isso, vivem marginalizados dentro desses países devido aos preconceitos sociais, não conseguem empregabilidade e se sustentam com as economias que trouxeram de seu país. Muitos não têm a mínima noção de como a sociedade brasileira é organizada, e alguns relatam narrativas que o Brasil não é um país que compreende ou respeita a religião islâmica. Felizmente, muitos mudam sua perspectiva sobre o Brasil quando chegam ao aeroporto.

Scalabrinianas – Há novidades em termos de aparelhos/casas de acolhida em São Paulo?
Coletivo Frente Afegã –
Não. Há somente o completo esgotamento do pouco aporte financeiro alocado para as casas de acolhidas, que operam no limite extremo de sua capacidade.

Scalabrinianas – Os afegãos ocupam abrigos especiais para imigrantes?
Coletivo Frente Afegã –
A maioria sim. Porém, há ciência que alguns homens, principalmente solteiros, são encaminhados para abrigos coletivos com diferentes perfis que potencialmente oferecem risco à sua integridade física, além de não compreenderam o diferencial desse grupo que tem características e necessidades diferentes dos brasileiros, desde a alimentação, às práticas religiosas e culturais, além de relatos que há, inclusive, uso de drogas dentro desses abrigos coletivos.

Scalabrinianas – No aeroporto, há algum auxílio para alimentação?
Coletivo Frente Afegã –
A prefeitura de Guarulhos fornece, por meio do Bom Prato, refeições durante a semana como almoço e janta, e conta com colaboração de diversas ONGs para suprir a demanda quando o Bom Prato não pode prover, como nos fins de semana. Entretanto, diversos outros problemas foram reportados, como a composição da marmita com carne de porco – que é ilícito o consumo entre muçulmanos, e acontece por vezes de simplesmente retirarem a proteína e não substituírem por nenhuma outra, o que não provê a quantidade nutricional necessária. Em casos mais graves, o preparo da alimentação não era adequado. Contamos ainda com muitas crianças, de diversas idades, que têm necessidades especiais de alimentação, como fórmula e papinhas que também não são levadas em conta e que só são fornecidas por nossos voluntários.

Scalabrinianas – Como funciona o trabalho do Coletivo?
Coletivo Frente Afegã –
Lutamos pela garantia básica de direitos humanos para as pessoas afegãs refugiadas que, desesperadamente, buscam uma nova vida em solo brasileiro, seja esta luta pelo direito à moradia, pelo direito à saúde ou pelo direito à educação. Atuamos principalmente no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), no terminal 2, check-in B, mezanino. Mas também auxiliamos os afegãos que já foram abrigados com outras questões como documentação, oportunidades de trabalho, idas ao médico, aulas de português.

Scalabrinianas – É o único coletivo do gênero no Brasil ou existem outros?
Coletivo Frente Afegã –
Entre brasileiros sim. Mas, recentemente, os próprios afegãos criaram uma instituição, a ARRO (Organização de Resgate de Refugiados Afegãos), para representar e dar voz à essa nova comunidade migrante aqui no nosso país.

Foto de Miguel Freire Couy

Scalabrinianas – Que parcerias vocês têm conseguido para acolhida dos migrantes?
Coletivo Frente Afegã –
Tivemos parcerias com outras ONGs e instituições que auxiliaram o Coletivo em relação a alimentação, banhos e doações, porém no que refere aos abrigos não, pois eles são encaminhados pelo Posto Humanizado e por instituições oficiais como a Cáritas e a ACNUR.

Scalabrinianas – Como colaborar com o Coletivo Frente Afegã?
Coletivo Frente Afegã – Nós recebemos doações físicas no próprio Aeroporto, como itens de primeira necessidade (cobertores, colchonetes, pães, leite, fraldas, absorventes…), mas também temos uma vaquinha de colaboração para comprar esses itens quando temos necessidades, cujo link é https://www.vakinha.com.br/vaquinha/acolhimento-aos-refugiados-afegaos-do-aeroporto-de-gru

Scalabrinianas – Teria alguma história que você acompanhou e gostaria de nos contar?
Coletivo Frente Afegã – Sim, há diversas pessoas com histórias incríveis. Há a família Yousufzai, em Itaquaquecetuba (SP), que tem suas duas filhas já estudando e já se comunicando muito bem em português. Ambas participaram pela primeira vez da festa junina e gostaram bastante. Os pais e o tio já estão trabalhando. Eles já têm uma casa e estão conseguindo aprender o idioma e se manter.

Por Nayá Fernandes, da Equipe de Comunicação.

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