As férias escolares começaram e, com elas, a oportunidade de conhecer lugares novos e fazer experiências diferentes. Existem alguns locais especiais pois foram construídos a partir das histórias de migração. Alguns deles de forma mais explícita como é o caso do bairro da Liberdade, em São Paulo e outros que é preciso ficar atento para não deixar passar despercebidos monumentos, igrejas ou parques que são uma verdadeira aula de história, miscigenação e valorização cultural de diferentes povos. Então, que tal aproveitar para passear e conversar com as crianças sobre migração, cultura, diversidade e respeito?
São Paulo
Liberdade
O bairro da Liberdade (foto da capa), no centro de São Paulo é todo caracterizado pela cultura japonesa. São muitas lojas, restaurantes e decorações pelas ruas que lembram a imigração japonesa. Segundo dados históricos, em 1912 os japoneses passaram a residir na rua Conde de Sarzedas, ladeira íngreme, onde na parte baixa havia um riacho e uma área de mangue. Por ali, existe, ainda hoje, um jardim japonês, além da ponte e dos postes que caracterizam as ruas principais do bairro.
Por ali é possível comer um ótimo yakisoba ou visitar restaurantes temáticos inteiramente decorados. Os espetinhos de camarão também fazem muito sucesso. Ocasionalmente, são realizados festivais com música, artes marciais e desfiles pelas ruas.
É bom lembrar que, além da liberdade; São Paulo tem outros locais que recordam a imigração japonesa, é o caso da Japan House, na Avenida Paulista e até mesmo do Parque do Carmo, repleto de cerejeiras.
Feira Kantuta
A feira Kantuta fica na zona norte de São Paulo, atrás do Museu dos transportes. Quem visita faz um mergulho na cultura andina. Isso porque, por meio de muitas barraquinhas com gastronomia, artesanato, costumes, roupas e danças, é possível conhecer melhor o modo de ser e viver dos imigrantes bolivianos. Além disso, todo o bairro do Pari é sugestivo para conhecer melhor a Bolívia em São Paulo!
A maioria das barracas é gerenciada pelos próprios bolivianos e é possível experimentar uma ótima empanada ou refrigerantes como o Inca Kola. Roupas para o inverno com lã de lhama, bolsas e muitas outras peças.
Higienópolis, um bairro judeu
Quem já caminhou pelas ruas do bairro Higienópolis já deve ter cruzado com homens com barbas longas e sobretudos pretos e mulheres que vestem saias compridas e, que, em geral, estão acompanhadas por muitos filhos. O bairro é o local de residência de muitos judeus, ortodoxos ou não.
Sabe-se que milhares de famílias de judeus desembarcaram em Santos nos anos de 1940, por causa da Segunda Guerra Mundial. O primeiro destino foi o Bom Retiro, mas após alguns anos, surgiu uma nova onda migratória para o bairro de Higienópolis. Por ali é comum encontrar comércios e locais que se especializaram para atender a este público. É o caso de açougues com carnes diferenciadas ou salões de beleza especializados em perucas.
Rio de Janeiro
Feira de São Cristóvão
Quem nunca escutou um forrozinho na feira de São Cristóvão e comeu um delicioso baião de dois, não sabe o que está perdendo. A feira celebra a cultura nordestina e com ela, a migração interna, ou seja, pessoas que se deslocam dentro do próprio país. A Feira de São Cristóvão é a opção carioca para comer e se divertir, pois oferece artesanato, comida, bebida, folclore e muita música.
Intitulada Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, o espaço fica no Bairro de São Cristóvão e por lá passam cerca de trezentas mil pessoas todo mês. São Paulo também tem seu Centro de Tradições Nordestinas, na Zona Oeste da Cidade. Ambos os locais recordam a migração de pessoas de diferentes estados para as duas maiores capitais do País, muitos trazidos pelo desejo de mudança e de uma vida melhor.
Fortaleza, Ceará
Libaneses
Na capital cearense também é possível encontrar muitos locais que são marcados pelas tradições de imigrantes. No Centro da cidade há, por exemplo a presença libanesa. Um antigo hotel, chamado San Pedro foi construído pela família Lazar e hoje abriga o edifício do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE). Do mesmo período, ano de 1963 foi inaugurada a Igreja de Nossa Senhora do Líbano, na rua República do Líbano, no Meireles. A igreja é católica, mas tem uma liturgia bizantina, com rito próprio.
Rio Grande do Sul
Gramado e Canela são o destino de férias de muitos brasileiros. As cidades são conhecidas pela arquitetura, pelos festivais do chocolate, pela decoração de Natal, por suas belezas naturais e outros atrativos que as tornam muito especiais. Mas, não só. Gramado e Canela foram construídos por imigrantes, que foram deixando suas marcas.
Pode-se dizer que a região sofreu influência, sobretudo, de imigrantes europeus. Sendo os primeiros vindos de Portugal, por volta de 1875, seguidos pelos alemães, cinco anos mais tarde e, posteriormente, italianos. Por isso, há por ali uma gastronomia única, além, é claro, dos detalhes dos edifícios, igrejas, museus e até mesmo pelos costumes dos habitantes, famílias inteiras que foram conservando os costumes e modo de viver de seus antecedentes.
Manaus, no Amazonas
Mercado Municipal, Porto e algo mais
A influência de imigrantes ingleses na cidade de Manaus, no Amazonas pode ser encontrada em diferentes lugares. A capital amazonense é um charme por si e recebe, ainda hoje, diferentes ondas migratórias. Mas, é possível ver a presença dos ingleses entre os manauaras especialmente em alguns edifícios e monumentos, tais como o Mercado Municipal, que funciona, ainda hoje, como o principal mercado da cidade para compra de frutas, verduras, carnes e peixes.
Além disso, os prédios do porto deixar perceber uma arquitetura própria que foi inspirada naquela da Inglaterra, com adaptações próprias para a região amazônica, é claro.
Recife e Olinda (PE)
Segundo um recente levantamento realizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, sediada em Lisboa, sobre a influência portuguesa no Brasil, Recife e Olinda formam o terceiro maior núcleo com patrimônio de influência portuguesa. É possível ver isso caminhando pelas ruas das cidades, observando sua arquitetura, gastronomia e até mesmo alguns costumes de seus moradores. Igrejas como a Nossa Senhora do Carmo e a Matriz de Boa Vista exemplificam bem como os portugueses deixaram marcas na região.
Os bairros de São José, Santo Antônio e Boa Vista ainda mantêm um traçado urbano, mesmo que modificado, que remete à época portuguesa. Já o Bairro do Recife, apesar de ter sido berço do surgimento da cidade, perdeu essa influência tanto nos prédios quanto na disposição dos quarteirões.
Curitiba
Vamos destacar, em Curitiba, locais que foram construídos para recordar as histórias de imigrantes. É o caso do Memorial Ucraniano – que se trata de uma das mais importantes reservas naturais da cidade, o Parque Tingui, entre os bairros Santa Felicidade e Pilarzinho. O local reúne exemplares da fauna e da flora regional e celebra três etnias: a indígena, que dá nome ao local; a ucraniana, com portal e o memorial inspirado na capela cristã ortodoxa e que é usada para eventos culturais; e a Praça Brasil 500 anos, reverência à chegada dos portugueses ao Brasil.
Também pode-se visitar o Memorial da Imigração Polonesa, conhecido como Bosque do Papa, porque tem uma homenagem a São João Paulo II. No local é possível ver pedaço da herança trazida pelos primeiros imigrantes poloneses que é, ainda hoje, muito importante para a formação da cidade.
Imigração ontem e hoje
Ao recordar situações de migração, é sempre bom lembrar que se trata de uma realidade que contina acontecendo e os imigrantes que chegam hoje, ao Brasil, trazem, igualmente suas culturas, gastronomias e modos de vida.
O Brasil é a soma de todos os povos que foram construindo e deixando suas marcas (alguns com violência, exploração e até mesmo dizimação de comunidades tradicionais); outros que vieram em situações de fuga de seus países, principalmente por causa das guerras e aqui se estabeleceram.
Por motivos diversos, povos de diferentes países do mundo continuam a migrar e a transformar cidades inteiras. Por isso, é importante conhecer a história e considerar que ela continua sendo escrita e construída. Boas férias!
Por Nayá Fernandes, da Equipe de Comunicação.