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Scalabrini e a formação da Irmã Missionária de São Carlos

Texto: Irmã Maria do Rosário Onzi, mscs

INTRODUÇÃO

A celebração do ANO SCALABRINIANO, está sendo mais um dom do Senhor para aprofundar o conhecimento da vida de nosso Fundador, o Bem-aventurado Dom João Batista Scalabrini. A celebração dos 25 anos de sua Beatificação nos oferece mais uma oportunidade particular, para confrontar nossa vida religiosa consagrada missionária scalabriniana, com o testemunho de vida espiritual e missionária de Scalabrini. No início desta reflexão permito-me fazer memória de palavras do Papa São João Paulo II pronunciadas no dia 09 de novembro de 1997. “Profundamente enamorado de Deus e extraordinariamente devoto da Eucaristia, ele soube traduzir a contemplação de Deus e do seu ministério em uma intensa ação apostólica e missionária, fazendo-se tudo em todos para anunciar o Evangelho”. Portanto, para a Congregação, a pessoa de Dom João Batista Scalabrini e seu testemunho de vida e missão deve fazer parte da cultura da formação permanente, no cotidiano da vida das Irmãs MSCS.  O tema sobre Scalabrini e a Formação nos remete ao Documento Potissimum Institutionis que diz o seguinte

Cada Instituto, de sua parte, tem uma responsabilidade primária e inalienável quanto à própria identidade. De fato, o «carisma dos fundadores» — «experiência do Espírito Santo transmitida aos próprios discípulos para ser por eles vivida, guardada, aprofundada e constantemente desenvolvida em sintonia com o Corpo de Cristo em contínuo crescimento» — é confiado a cada Instituto como patrimônio original em benefício de toda a Igreja. Cultivar a própria identidade na «fidelidade criativa», significa, portanto, fazer confluir na vida e na missão do povo de Deus, dons e experiências que a enriquecem e, ao mesmo tempo, evitam que os religiosos «venham a inserir-se na vida da Igreja de modo vago e ambíguo». 

O Bem-aventurado Scalabrini desde o envio missionário, das quatro pioneiras, se mostrou preocupado com a formação, e lhes disse: “Ide confiantes filhas mandar-vos-ei depois outras coirmãs e vós retornareis para formar-vos e consolidar-vos no espírito religioso”.

  • A cultura da formação permanente na vida de Scalabrini   

A Congregação tem em seu Fundador o bem-aventurado Dom João Scalabrini um testemunho fiel de seu cultivo espiritual, humano e missionário, e o tem demonstrado também como Reitor do Seminário onde exerceu esta missão por três anos: “Esforçou-se por compreender e amar os seminaristas com afeto de pai e de irmão. Amava e era amado. Possuía, em alto grau, o dom de unir a bondade com a disciplina”.

Este exemplo que Scalabrini nos legou, reporta-nos ao que o XIV Capítulo Geral propõe firmemente a que vivamos. 

Na Congregação, todas as irmãs scalabrinianas são interpeladas a serem mediadoras de um anúncio vocacional autêntico, criativo e eficaz, comprometidas em despertar vocações para o serviço na Igreja e à humanidade. Por isso, esta tarefa é de responsabilidade de todas e, juntas, precisamos solidificar, pessoalmente e em comunidade, a cultura vocacional.

Nomeado Pároco da Paróquia São Bartolomeu, no ano de 1870, cuidou da formação religiosa do povo em geral. Os paroquianos assim testemunharam: “Sua presença inspirava um novo sopro de vida e fomentava uma verdadeira e profunda renovação religiosa. Era o triunfo do reino de Cristo no meio das almas.

O Fundador foi ordenado Bispo, no dia 30 de dezembro de 1876, aos 36 anos de idade, e em seu programa de vida, no ministério episcopal, entre tantos escritos e cartas pastorais notamos que ele acolheu este envio com consciência do que realmente estava assumindo

Sacrificar-se de todos os modos, para dilatar o reino de Jesus Cristo nas almas, expor, se necessário, a própria vida, para a salvação de seu amado rebanho, colocar-se de joelhos diante do mundo para implorar, como uma graça, a permissão para lhes fazer o bem, eis o espírito, o caráter, a única ambição do Bispo. Quanto possui de autoridade, de espírito, de saúde, de força, tudo usa para este nobre fim.

Scalabrini estava ciente que para a Palavra de Deus ser fecunda na vida das pessoas tem que ser acompanhada pelo testemunho de vida e afirmava: 

Abraçarei a todos, fazendo-me servo de todos. Quanto a mim, devedor que sou de todos, segundo as minhas forças, abraçarei a todos com meu ministério, fazendo-me servo de todos pelo evangelho (1 Cor 9) e enviado antes de tudo aos pobres e aos mais infelizes, que levam a vida miseravelmente, na desolação, sofrerei com eles, sobretudo, procurando socorrer e evangelizar os pobres que ricos de fé, foram os primeiros escolhidos pelo Redentor e herdeiros do reino, prometido por Deus, àqueles que o amam (Tg 2)”.

Neste Ano Scalabriniano temos a feliz oportunidade de retomar os escritos da vida de nosso Fundador e beber de sua riqueza humana, espiritual e missionária.

  • O cultivo da vida espiritual do Fundador testemunho para a formação permanente da Irmã MSCS  

A Congregação tem um precioso patrimônio de vida humana, espiritual missionária encarnada pelo Fundador, o Bem-aventurado Dom João Batista Scalabrini que é luz e guia para o itinerário formativo da Irmã mscs.

A experiência de fé vivida por Scalabrini, a fé como visão de Cristo e em Cristo, visão do Pai e de toda a realidade humana e histórica, que a definimos “espiritualidade da encarnação”, é fonte e caminho espiritual de Scalabrini. Portanto, ele vive uma espiritualidade encarnada e a manifesta colocando em seu brasão episcopal, a Escada de Jacó, isso também porque estava inserida em seu “nome”, isto é, no mais íntimo de seu ser. 

As palavras: ‘Video Dominum innixum scalae’ (Gn 28, 12-13) constituíam o segredo e a explicação de sua espiritualidade. Deus deveria ser o único absoluto de sua vida, ocupando todos os espaços do coração e tudo relativizando, a partir das ambições em que se debatem, muitas vezes, os homens, como deixava claro numa carta a um amigo: “Que importa ser o primeiro ou o último? Quando se trabalha por Deus, em Deus com Deus, o último lugar é mais precioso do que o primeiro!.

A ‘escada’, pode ser vista como síntese da espiritualidade de Scalabrini que ‘subia’ ao céu para se impregnar de Deus e ‘descia’ a terra para encarná-la em pessoas e acontecimentos no cotidiano da vida.

A vida de fé que guiou a vida ‘interior’ e ‘exterior’ do Fundador brotava da meditação assídua da Palavra de Deus e da ‘conversação’ familiar com Cristo na adoração eucarística. Encarnando a Palavra de Deus em sua vida cotidiana, Scalabrini conformou assim a sua vida aos sentimentos de Cristo. 

O modo de conversar seja o de Jesus Cristo; o olhar, mansidão dos modos sejam os de Jesus. Jesus, nosso modelo, nosso espelho, nosso selo. Ele deve proferir os juízos, traças os caminhos, decidir as escolhas; Ele a governar, a dirigir, a dominar a nossa vida. Ele finalmente o nosso amor, a nossa alegria, a nossa coroa, o pensamento de nossa mente, a palpitação de nosso coração, o objeto de nossas aspirações, o objeto…, o som…, o balsamo…, o bastão…, o hino…, o cântico, que ecoa em nossos lábios e nos acompanham do tempo até a eternidade”.

O Documento final do XIV Capítulo Geral nos interpela a assumir a formação permanente como um continuo caminho de conformação aos ‘sentimentos de cristo’. 

A formação entendida como conformação aos sentimentos de Cristo, é um processo que abraça toda a vida, da formação inicial à formação permanente. Esse processo exige seriedade em todas as etapas do discernimento pessoal, partir do único modelo formativo que é o modelo pascal, o qual se configura com o “Filho Obediente, o Servo Sofredor e o Cordeiro Inocente”, mistério que se encarna em nossa casa comum, assume as nossas fragilidades e as transforma com a potência da Graça”.

O Bem-aventurado Scalabrini tem consciência que para a missão que Deus lhe confiou, e ser testemunho eficaz na mesma, era necessário primeiro o cultivo pessoal, e afirma: “Um bispo deve, em cada ação ser movido pelo Espírito Santo, motor secreto da humanidade santíssima de Jesus Cristo”. Para isso, mesmo diante de tantas atividades pastorais que seu ministério episcopal exigia, se compromete também a elaborar um Plano Pessoal de Vida. O mesmo o encontramos completo no Livro; Scalabrini – Uma Voz Atual, a partir da página 45 e seguintes.

Destaco aqui alguns aspectos do roteiro contidos em seu Plano Pessoal de vida que elaborou no final de um retiro: 

– Elevar-me, nobilitar-me, purificar-me, divinizar-me;

– Prometo diariamente e a cada semana…; (ver página 46)

– Propósitos particulares a serem observados…; (ver páginas 46 e 47)

– Que o Espírito Santo habite em mim, me governe, me conduza;

– Fazer o bem, fazer todo o bem possível, eis a minha única aspiração”.

Portanto, Scalabrini nos dá também um testemunho para a elaboração do plano pessoal de vida. “Cada Irmã dá especial atenção à orientação espiritual e ao cultivo pessoal estabelecido no próprio plano de vida”.

Em nosso Plano Pessoal de Vida nos faz bem lembrar também como o nosso o Fundador viveu uma espiritualidade encarnada, pois, fez a experiência que o humano foi divinizado pela Encarnação do Verbo. A humanidade individual é divinizada pela extensão da Encarnação de Jesus Cristo, em cada pessoa. 

Divinização = Continuação e extensão da Encarnação em nossa pessoa. Jesus veio à terra para fazer-nos viver a sua vida, para tornar-nos, por assim dizer, uma única coisa com Ele. Eu vim, diz Ele, para que tenham vida e a tenham em abundância. Ora, a vida que Jesus veio comunicar-nos, unindo-se à nossa alma é a sua mesma vida.(…) Unidos nós a Jesus Cristo por uma união menos perfeita, sim, mas além de íntima, nós somos como que a extensão d´Ele mesmo; pertencemos-Lhe, como os membros pertencem ao corpo”.

Conclusão

O tema que aqui refletimos é muito próprio para a realidade que atualmente vivemos e se torna até difícil concluí-lo, pois, a cultura da formação permanente é para toda a vida. É necessário, portanto assumir com fidelidade criativa a formação no cotidiano da vida. Os documentos da Igreja e da Congregação nos convocam para que assumamos a formação nas pequenas coisas do dia a dia e segundo a realidade do nosso tempo. A Exortação Apostólica, Gaudete et Exultate nos convida a vivermos uma santidade “ao pé da porta” das pessoas que vivem perto de nós, das coirmãs, pois são um reflexo da presença de Deus

Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tu doação. (…) estás investido de autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais”. “Não tenha medo da santidade. Não te tirará forças nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser.

Lembro aqui o que o XIV Capítulo Geral no conteúdo da formação integral nos interpela: 

Compreender a formação na ótica deste mistério, faz emergir a necessidade de formar nossa sensibilidade para perceber os sinais da graça de Deus presentes em todas as circunstâncias. É o deixar-se formar pela vida e por toda a vida. Por isso, sente-se a urgência de também suscitar na Congregação a cultura da formação permanente, ou seja, a passagem de uma formação em tempos extraordinários (ex: cursos, retiros) para uma formação assumida no contexto cotidiano, que constantemente nos desafia a sair de nós mesmas, para responder com fidelidade e coragem ao chamado que o Senhor nos faz e à missão eu nos confia”.

Espero que esta reflexão seja útil para que a cultura da formação permanente cultivando assim o desejo de buscar a santidade no cotidiano de nossa vida. Peçamos ao Espírito Santo que nos plenifique com sua sabedoria e graça no caminho da fidelidade à nossa vida religiosa consagrada missionária scalabriniana. Para o caminho de nossa fidelidade mais uma vez lembro o que o Bem-aventurado Scalabrini num de seus discursos, com convicção nos afirma. 

O primeiro degrau ou meio da santidade é um desejo ardente e veemente. Não é suficiente um desejo, uma decisão qualquer. É necessário um desejo e uma vontade comparáveis à fome e à sede. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. A santidade é a verdadeira sabedoria, que é preciso invocar, desejar como a riqueza, cavar como um tesouro. Ninguém atingirá a cume da santidade, se não a tiver desejado ardentemente”.

Somos convidadas a abraçar o passado, o presente e o futuro, integrando-os em nossa vida cotidiana com alegria, amor, fé e esperança.

PARA REFLETIR E PARTILHAR:

  • Partilhe com a comunidade aspectos de um dos livros que você leu de nosso Fundador, o Bem-aventurado Dom João Batista Scalabrini.
  • Cite três aspectos da vida de Scalabrini que marcaram sua vida religiosa consagrada MSCS.
  • Destaque aspectos deste texto que você achou oportuno refletir.

 ORAÇÃO AO BEM-AVENTURADO JÕAO BATISTA SCALABRINI

Oh! Bem-Aventurado João Batista Scalabrini, 

com coração de Bispo e fervor de Apóstolo,

Tu te fizeste tudo para todos. Escutaste o clamor dos migrantes,

falaste em seu nome, defendeste seus direitos.

A Eucaristia foi teu sustento, a Cruz de Jesus teu refúgio,

Maria, Mãe da Igreja, teu conforto. Por tua intercessão Deus que é Pai, Filho, Espírito Santo, conceda paz a toda a humanidade, proteja os que cruzam

mares e fronteiras apoiados na esperança, abençoe a nós e nossos familiares 

e concede-nos a graça que confiante te pedimos. Amém!

Bibliografia

Direito Próprio: Constituições e Ordenações da Congregação MSCS, 2015.

Documento Final do XIV Capítulo Geral, 2019. 

Potissimum institutioni (PI) CIVCSVA, 1990.

PAPA FRANCISCO – Exortação Apostólica, Gaudete Et Exultate, Sobre a Chamada à Santidade no Mundo Atual, 2018.

FRANCESCONI, Mario. João Batista Scalabrini. Espiritualidade da Encarnação. São Paulo, 1991.

Congregações Scalabrinianas. Missionários e Missionárias de São Carlos. Scalabrini –  Uma voz Atual. São Paulo, 1989.

RIZZARDO, Redovino. Carisma Scalabriniano na Igreja. Congregação Scalabriniana – Roma 1991. 

RIZZARDO, Redovino. João Batista Scalabrini. Profeta da Igreja Peregrina – Vozes, Petrópolis 1974.  

SIGNOR, Lice Maria. Irmãs Missionárias de São Carlos Scalabrinianas. 1895-1934. Brasília, 2005.  

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