No ano em que celebramos os 130 anos da fundação da Congregação das Irmãs Scalabrinianas e da chegada de Madre Assunta Marchetti ao Brasil, traremos uma série de entrevistas para conhecer a realidade da missão das Scalabrinianas na Província Maria, Mãe dos Migrantes.
Em 2025, a Pastoral dos Migrantes na Arquidiocese de Fortaleza celebrou os 30 anos de existência. Essa missão foi iniciada pelas Irmãs Scalabrinianas em 3 de fevereiro de 1995, a convite de Dom Aloísio Lorscheider, para se dedicar à questão da migração interna no estado do Ceará.
Com a expansão da migração internacional, as ações foram ampliadas com o apoio de voluntários, outras pastorais, movimentos da Igreja e congregações religiosas, que colaboram com a missão de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e refugiados. Para conhecer melhor essa missão, conversamos com a Ir. Goreth Batista Ferreira, Missionária Scalabriniana e coordenadora da Pastoral dos Migrantes da Arquidiocese de Fortaleza, que compartilha sua experiência sobre o trabalho pastoral com os migrantes e refugiados.
Confira a entrevista do Serviço de Comunicação com a Ir. Goreth Ferreira.
Qual é o perfil do público atendido pela Pastoral do Migrante?
Ir. Goreth Batista Ferreira: O perfil do público atualmente é composto, principalmente, de nacionais de Cuba, Venezuela, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, Colômbia e Afeganistão. Nesse público, atendemos tanto famílias quanto pessoas sozinhas, mas a maioria são famílias.
O público africano vem principalmente com visto de estudo para estudar na UNILAB, porque o Brasil tem um convênio com os países lusófonos, mas tem também aqueles que não fizeram a prova e tentam chegar aqui e ingressar na universidade, o que não acontece. Esses, ao chegar, pedem visto de residente e, dependendo do caso, alguns pedem visto humanitário ou refúgio.
Quais são os principais desafios enfrentados pelo público atendido?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Um dos desafios é o idioma, porque a maioria não fala o português. Outra questão são as distâncias, porque, se eles vão alugar uma casa, não conseguem alugar perto dos hotéis ou da praia, porque é muito caro, e eles têm que ir para as periferias e as periferias são longe e eles precisam pagar transporte, o que dificulta para irem para o trabalho.
Existe, também, a xenofobia, o preconceito com o migrante. Em muitos lugares eles são mal-atendidos, dizem para eles que eles não tem que ficar aqui, que não tem atendimento para eles, só para brasileiros, esse tipo de situação.

Como as Scalabrinianas respondem a essas necessidades?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Como coordenadora, tento buscar parcerias, porque a missão aqui não tem financiamento, atuamos só através de doações. Por exemplo, estamos com o caso de 30 mães grávidas e com crianças de até 3 anos que estão passando por necessidades e estamos tentando nos mobilizar e ver se encontramos doadores para apoiar essas mães.
Quais são os principais desafios e alegrias encontrados em sua missão na Pastoral do Migrante?
Ir. Goreth Batista Ferreira: A partir da minha missão aqui, o principal desafio é chegar migrantes batendo na porta aqui da pastoral com uma necessidade muito extrema, e eu não ter, como pastoral, como apoiar essa mãe.
A minha maior alegria, aqui na missão, é, por exemplo, fazer uma visita a uma família, e ver que eles, apesar de todo o sacrifício, de toda necessidade que estão passando, estão felizes e são gratos a Deus.
Como Irmã Scalabriniana, minha maior alegria é poder ver pessoas que se doam, que conseguem ver no migrante, no mais vulnerável, o próprio Cristo Ressuscitado e querem apoiar e ajudar, querem socorrer, ser ombro amigo para esses migrantes que estão lutando pela sua dignidade e estão vulneráveis nesse momento.
Como é o dia a dia do trabalho na Pastoral do Migrante?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Aqui na pastoral nós temos atendimento presencial todas as terças e quintas, na parte da manhã, no Centro de Pastoral. Nos outros dias da semana e à tarde nas terças e quintas, os atendimentos são feitos via WhatsApp, porque, como Fortaleza é muito grande, nós entendemos que muitas vezes o migrante precisa pegar dois ônibus ou mais para chegar aqui, o que dificulta.
Nos dias em que eu não estou na Pastoral, faço visitas, mas não visito todos os migrantes que vêm aqui, porque são visitas muito objetivas. Faço, também, reuniões com instituições que podem colaborar e aqui no Centro de Pastoral, com outras pastorais, e vou nas escolas para falar da pastoral.
Quais são os maiores frutos do trabalho da Pastoral do Migrante?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Acho que o maior fruto que a Pastoral do Migrante pode ter é, depois de ter acolhido uma família ou um migrante que está passando por necessidade, ver que ele encontrou sua dignidade de filho de Deus e está conseguindo caminhar por si só.
Te dou um exemplo de um imigrante africano que veio sem o visto para estudar, mas não desistiu do sonho. Ele trabalhou e se esforçou e depois veio se despedir, porque ele passou em uma universidade em Florianópolis. Ele ter tido essas condições, para nós, é um fruto do trabalho que fazemos aqui, de ajudar eles a trazerem de volta a dignidade e serem protagonistas da própria vida.
Existe alguma parceria com outras organizações ou entidades? Se sim, quais?


Ir. Goreth Batista Ferreira: Nós temos parcerias com as outras pastorais sociais da Arquidiocese, como a pastoral do povo em situação de rua, a pastoral carcerária, o Centro de Pastoral da Arquidiocese, que tem sido um grande parceiro nosso. O RCC (Renovação Carismática Católica), também é um grande parceiro, inclusive, estamos nos mudando para uma nova sala, na qual o RCC e outras pastorais colaboraram com toda a reforma e alguns móveis.
Nós temos, também, parceria com a UECE (Universidade do Estado do Ceará) e com o programa dos migrantes da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Ceará. Também temos parceria com algumas empresas que contratam os migrantes aqui em Fortaleza, através do Fórum Empresas com Refugiados, do ACNUR, e com as pessoas particulares e outros movimentos da Igreja que se dispõem a colaborar.
Como as pessoas podem apoiar o trabalho das Irmãs Scalabrinianas nessa missão?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Muitas pessoas trazem doação de roupas, brinquedos, fraldas, cestas básicas. Muitas vezes deixam aqui no centro de pastoral e, outras vezes, ligam no WhatsApp e dizem que tem essa doação. Além disso, às vezes a gente precisa de dinheiro para comprar alguma coisa muito específica e as pessoas se disponibilizam em fazer essa doação.
Para ajudar, basta procurar a pastoral através do site da Arquidiocese, do e-mail ou do WhatsApp, para que a gente agilize essas doações. E, se querem se voluntariar, também é só entrar em contato para conversar e se organizar.
Há alguma história que tenha marcado sua trajetória?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Eu acho que uma história que realmente me marcou é de quando eu estava no meu processo de discernimento para entrar na Congregação. Eu era voluntária na Missão no Equador, em Quito, e tive a oportunidade de conhecer algumas famílias que passavam por muita necessidade, muito sofrimento.
Eram famílias refugiadas, mas que, apesar de dormir no chão, às vezes só ter um pão para dividir entre 4 pessoas, eram felizes e agradeciam a Deus por estarem vivos, por terem uma oportunidade de recomeçarem e por terem ali a Missão Scalabriniana e as Irmãs com eles.
O que significa para você viver os 130 anos da fundação da Congregação em sua missão?
Ir. Goreth Batista Ferreira: Poder viver esses 130 anos em um tempo de Jubileu de Esperança, onde a pastoral aqui de Fortaleza tem zero financiamento, apoiando a necessidade urgente de alguns migrantes que chegam a nós através da Providência Divina, como fazia Madre Assunta, ou seja, poder vivenciar essa experiência de que a Providência de Deus não falha, é algo que eu não posso quantificar. É uma experiência única.
Hoje, o foco da Pastoral é o atendimento às mães migrantes, que estão com bebês de até 3 anos ou grávidas, e lembrar que a nossa missão, há 130 anos, começou com as crianças que estavam desamparadas, é algo muito significativo, muito simbólico.
São ciclos que se refazem. São momentos históricos diferentes, mas situações muito semelhantes, e poder vivenciar o Jubileu da Esperança e os 130 anos em uma missão onde a fé e a esperança são o que move, acreditando na Providência Divina, que é uma das coisas que Madre Assunta, São Scalabrini e Pe. Marchetti mais confiavam, é muito simbólico para mim, que fiz os meus votos perpétuos em dezembro do ano passado, e também para os pastoralistas.
Do Serviço de Comunicação
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