Foi lançado nesta segunda-feira, 10, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), o relatório “Sem Escapatória II: o caminho a seguir”, do ACNUR (Agência da ONU para os Refugiados). A COP30 acontece entre 10 e 21 de novembro em Belém/PA. As Scalabrinianas marcarão presença na COP30 como parte da delegação oficial do Brasil.
O novo relatório do ACNUR, que trata sobre deslocamentos e clima, destaca que, até meados de 2025, 117 milhões de pessoas estavam deslocadas por conflitos, sendo que 75% delas, o equivalente a três em cada quatro pessoas, estavam expostas a riscos altos ou extremos relacionados ao clima.
“Os perigos relacionados ao clima não ocorrem isoladamente. Eles agravam várias causas de deslocamento forçado dentro e fora das fronteiras”, destaca o documento, que aponta que, nos últimos 10 anos, desastres climáticos causaram cerca de 250 milhões de deslocamentos internos, o que equivale a cerca de 70 mil deslocamentos por dia.
O relatório aponta que esses deslocamentos “geralmente ocorrem em ambientes frágeis e afetados por conflitos”, visto que o número de países que relatam conflitos e desastres triplicou desde 2009. Entre os exemplos, o estudo aponta o Chade, um dos países mais vulneráveis ao clima do mundo, que abriga mais de 1,4 milhão de refugiados e requerentes de asilo. O relatório recorda que, em 2024, as inundações no Chade provocaram mais de 1,3 milhão de deslocamentos internos, o maior número de deslocamentos relacionados a desastres climáticos já registrado no país e mais do que o total dos 15 anos anteriores combinados.
“As mudanças climáticas estão agravando e multiplicando os desafios enfrentados por aqueles que já foram deslocados, bem como seus anfitriões, particularmente em ambientes frágeis e afetados por conflitos”, sublinha o documento, apontando que, em junho de 2025, mais de 86 milhões de pessoas deslocadas viviam em países com exposição alta a extrema a riscos relacionados ao clima.
Soluções duradouras estão mais difíceis de serem alcançadas
O relatório destaca que “soluções duráveis para o deslocamento estão se tornando mais difíceis de alcançar”, devido ao aumento dos impactos climáticos e dos desafios enfrentados pelas pessoas deslocadas ou retornadas para garantir lugares seguros para se estabelecer, aumentando o risco de deslocamento prolongado, recorrente e posterior.
Entre os exemplos citados pelo documento, estão Dadaab, no Quênia, onde 20 mil refugiados foram deslocados devido a inundações no início de 2024, e as inundações extremas em maio de 2024, que deslocaram mais de 775 mil pessoas e afetaram cerca de 43 mil refugiados de forma desproporcional. Segundo o relatório, entre janeiro e junho de 2025, cerca de 1,2 milhão de pessoas retornaram aos seus países de origem, sendo cerca de 50% deles a países altamente vulneráveis ao clima.
Cerca de 1 bilhão de crianças em risco
De acordo com o relatório do ACNUR, cerca de 1 bilhão de crianças (quase metade de todas as crianças no mundo) correm um risco “extremamente alto” de sofrerem com o impacto das mudanças climáticas, incluindo um alto risco de serem deslocadas por desastres climáticos.
O documento aponta que, entre 2016 e 2023, mais de 62 milhões de crianças foram deslocadas por eventos climáticos, o equivalente a 21 mil deslocamentos por dia. Segundo o relatório, “crianças e jovens deslocados, seja em assentamentos de refugiados, favelas urbanas ou megacidades, geralmente têm menos recursos para lidar e são empurrados para as margens da sociedade, onde o risco de riscos climáticos é maior”, sendo mais suscetíveis a doenças, desnutrição e imunização inadequada, enfrentando, ainda, barreiras no acesso à educação.
Tendências e soluções
O relatório traz, ainda, uma série de tendências para o futuro, destacando que “os riscos relacionados ao clima enfrentados pelas populações deslocadas devem se intensificar e contribuir cada vez mais para as tendências de deslocamento”. Segundo o estudo, estas vulnerabilidades estão se aprofundando em escala e complexidade à medida que as mudanças climáticas se aceleram.
“O que não mudará é o fato de que aqueles que são mais vulneráveis e com menos capacidade de adaptação serão os mais atingidos”, afirma o relatório, que sublinha que em 2024 foram registrados 150 eventos climáticos extremos que quebraram recordes anteriores em suas regiões.
Entre as maiores ameaçadas para comunidades deslocadas, o estudo aponta o calor extremo, destacando que quase todos os assentamentos de refugiados atuais enfrentam um aumento no estresse térmico perigoso. Estima-se que, até 2050, os 15 campos de refugiados mais quentes possam enfrentar cerca de 200 dias de calor extremo por ano.
Além disso, o documento aponta que, até 2040, o número de países que enfrentam exposição extrema a riscos climáticos deve aumentar de três para 65, sendo que a maioria deles já abriga populações deslocadas, entre eles Camarões, Chade, Sudão do Sul, Nigéria, Brasil, Índia e Iraque. Juntos esses 65 países abrigam mais de 45% de todas as pessoas deslocadas por conflitos atualmente.
Apesar dos desafios apresentados, o ACNUR apresenta no relatório as possíveis soluções, destacando quatro chamadas à ação: habilitar, incluir, investir e entregar. Essas chamadas incluem ações como apoiar as comunidades deslocadas e seus anfitriões na liderança das linhas de frente, ampliar o acesso equitativo ao financiamento climático para deslocados e anfitriões, garantir que as políticas e planos climáticos sejam desenvolvidos com consulta a refugiados e pessoas deslocadas, acelerar a ação climática inclusiva e sensível a conflitos em áreas que abrigam pessoas deslocadas.
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Por Amanda Almeida, do Serviço de Comunicação












