Durante a audiência com os participantes do XVI Capítulo Geral dos Missionários de São Carlos, Scalabrinianos, na segunda-feira, 28, o Papa Francisco destacou a capacidade dos migrantes de serem “mestres de esperança” em meio às adversidades.
Francisco agradeceu pela escolha do tema “Peregrinos da esperança”, do Jubileu de 2025, para inspiração da programação pastoral para o futuro da ação pastoral dos Scalabrinianos e refletiu sobre três aspectos do ministério dos Missionários de São Carlos: os migrantes, a pastoral e a caridade.
“Os migrantes são mestres de esperança”, destacou o Papa, recordando que os migrantes deixam suas casas “na esperança de “encontrar o pão de cada dia em outro lugar” – como dizia São João Batista Scalabrini. Mesmo quando tudo parece funcionar contra eles, e eles encontram apenas portas fechadas e rejeição, eles não se desesperam.”
Ele sublinhou que a determinação dos migrantes tem uma grande capacidade de ensinamento, afirmando que, como “migrantes entre migrantes”, há muito que os Scalabrinianos podem aprender ao participar desse caminho. “Não vos esqueçais do Antigo Testamento: a viúva, o órfão e o estrangeiro são privilegiados de Deus. O sonho de um novo futuro que impulsiona as pessoas a migrar reflete um anseio de salvação que está presente em todas as pessoas, independentemente de sua raça ou condição social”, disse Francisco.
Refletindo sobre o aspecto pastoral, Francisco destacou que “a migração pode certamente ser um momento de crescimento para todos, quando se presta um apoio adequado”. No entanto, ele continuou, “quando os migrantes experimentam a solidão e o abandono, suas vidas podem degenerar em dramas de deslocamento existencial, crises de valores, aspirações sufocadas e até perda de fé e desespero.”
“Não esqueçamos que os migrantes devem ser acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados”, disse o Papa, que destacou que, para preservar a força e resiliência necessária para continuar suas jornadas, os migrantes “precisam de alguém que cuide das suas feridas” em todos os seus aspectos.
Francisco afirmou, ainda, que “hoje muitos países precisam de migrantes”, devido à baixa natalidade. “A Itália não está tendo filhos. A idade média é de quarenta e seis anos. A Itália, portanto, precisa dos migrantes e deve acolhê-los, acompanhá-los, promovê-los e integrá-los. Temos que falar sobre essa verdade”, pontuou.
Falando sobre a caridade, Francisco recordou a vigília do Jubileu de 1900, quando São João Batista Scalabrini “observava que “o mundo geme sob o peso das grandes catástrofes”. Essas foram palavras fortes, mas, infelizmente, permanecem oportunas.”
O Papa recordou que, ainda hoje, aqueles que deixam seus países muitas vezes o fazem por situações trágicas e injustas, como a desigualdade de oportunidades, a ausência de democracia, o medo do futuro e a devastação das guerras. “Este problema é agravado pelo fechamento das fronteiras e pela hostilidade demonstrada pelos países ricos que percebem aqueles que batem à sua porta como uma ameaça ao seu próprio bem-estar.”
Ele recordou, ainda, o “escândalo em que os países do norte trazem migrantes da Europa Central para colher maçãs, mas depois os mandam embora. Eles os usam para colher maçãs e depois os rejeitam”. Francisco destacou que, nesse confronto de interesses entre quem acumula riquezas e quem luta para sobreviver, “perdem-se muitas vidas humanas, enquanto outros olham com indiferença e alguns, pior ainda, transformam aquelas situações de sofrimento em seu próprio benefício.”
O Papa lembrou que, na Bíblia, “uma das leis jubilares era a restituição da terra a quem a tinha perdido. Hoje, num contexto diferente, este ato de justiça pode ser realizado através de obras caritativas que afirmem a dignidade e os direitos de cada indivíduo”. Ele destacou que, assim, os estereótipos “são rejeitados e as outras pessoas, independentemente de quem sejam ou de onde provenham, são vistas como um dom de Deus, único, sagrado, inviolável, um recurso precioso para o benefício de todos.”
Por Amanda Almeida, da Equipe de Comunicação