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130 anos em entrevista: o caminho de fé na causa de canonização de Madre Assunta

No ano em que celebramos os 130 anos da fundação da Congregação das Irmãs Scalabrinianas e da chegada de Madre Assunta Marchetti ao Brasil, traremos uma série de entrevistas para conhecer a realidade da missão das Scalabrinianas na Província Maria, Mãe dos Migrantes.

Em 1895, Assunta Marchetti se tornou a primeira Irmã Scalabriniana, após aceitar o chamado de Deus através de seu irmão, Pe. José Marchetti, para se tornar missionária entre os órfãos e migrantes no Brasil. Viveu uma longa vida dedicada aos mais vulneráveis e faleceu em 1º de julho de 1948, no Orfanato Cristóvão Colombo, na Vila Prudente/SP, hoje Casa Madre Assunta.

Em 12 de junho de 1987 teve início o processo diocesano de beatificação de Madre Assunta, aberto pelo então Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. Depois de um longo processo no qual foram reconhecidas as virtudes heróicas e o milagre de Deus alcançado por sua intercessão, foi beatificada em 25 de outubro de 2014, em cerimônia realizada na Catedral Metropolitana de São Paulo/SP.

Em 2013, a Ir. Leocádia Mezzomo foi nomeada pela então Superiora Geral da Congregação, Irmã Alda Mônica Malvessi, como Postuladora da Causa de Canonização de Madre Assunta Marchetti, após realizar o Curso para Postuladores em Roma.

Para conhecer melhor a missão da postuladora da Causa de Canonização de Madre Assunta, confira a entrevista do Serviço de Comunicação com a Ir. Leocádia.

Como a senhora se sentiu ao receber a missão de ser postuladora da causa de canonização da Bem-aventurada Assunta Marchetti?

Missa de Beatificação de Madre Assunta

Ir. Leocádia Mezzomo: Ser chamada a assumir a missão de Postuladora foi, inicialmente, uma surpresa, pois era algo novo, inesperado. Senti pesar sobre mim uma responsabilidade que eu jamais havia pensado. Ser postuladora de uma causa, de uma pessoa em processo de averiguação da santidade de vida superava minhas humanas possibilidades. Quem era eu para ocupar-me da santidade de Madre Assunta? Devia ocupar-me dos pequenos e grandes detalhes que, no caso, Madre Assunta viveu. Ela que foi uma mulher, uma religiosa missionária, que soube tecer seu dia a dia no “Altar da vontade de Deus”. Simples e humilde como a maioria dos santos que conhecemos e eu devia ocupar-me disto e torná-la conhecida, amada e invocada por sua santidade.

Em que consiste o trabalho de uma postuladora?

Ir. Leocádia Mezzomo: O trabalho da postuladora é reconhecer os detalhes virtuosos que a pessoa viveu nos diferentes campos de sua vida religiosa missionária. É conhecer para admirar, amar e torná-la conhecida entre as coirmãs da Congregação e o povo de Deus, de modo particular nos lugares onde ela viveu, onde “espalhou o nardo precioso de sua caridade”. É ficar atenta às graças e possíveis milagres que acontecem entre os que imploram sua intercessão, até que alguém obtenha um milagre de Deus através de sua intercessão.

Quais etapas já foram percorridas no Processo da Causa de Canonização Madre Assunta?

Ir. Leocádia Mezzomo: O Processo Canônico de Canonização compreende quatro etapas:

  • Serva de Deus: quando o processo foi aceito pelos bispos da Conferência Episcopal Brasileira;
  • Venerável, ou seja, digna de ser venerada, quando são reconhecidas as virtudes heróicas: as teologais, as virtudes cardeais e a dos votos religiosos;
  • Beatificação: quando Deus se dignou realizar um fato extraordinário, inexplicável à ciência, curando alguém por sua intercessão;
  • Canonização: é a meta a ser atingida. Para tanto, falta a comprovação de mais um milagre. Atualmente estamos acompanhando um caso que possui características de milagre. Estamos reunindo os documentos necessários para serem apresentados ao Dicastério das Causa dos Santos, no Vaticano.

Quais frutos espirituais a senhora colhe em sua missão como postuladora?

Ir. Leocádia Mezzomo: Ter “entre as mãos” a vida piedosa e serviçal da Cofundadora, me fez perceber mais concretamente que só posso servir com amor, viver a vocação universal à santidade, à qual todas somos chamados, tendo uma relação muito particular com Jesus, o “Esposo Celeste” a quem ela dedicava longas horas de dia e de noite e a quem servia com aquele amor haurido na santa liturgia e aos pés do sacrário. Isto mexe comigo e me faz o apelo constante de viver mais coerentemente a minha vocação.

Que sementes do ‘carisma’ da Bem-aventurada Assunta a senhora vê florescendo nas novas gerações de irmãs, leigos e leigas?

Missa de Beatificação de Madre Assunta

Ir. Leocádia Mezzomo: Aquela que hoje conhecemos como Bem-aventurada Assunta viveu o carisma pessoal da doação amorosa ao próximo, engajada, desde o início da vida missionária, no Carisma Scalabriniano. Ela não temeu atravessar o oceano para ser “Migrante com os Migrantes”, para servir a Jesus-criança, nas tantas crianças migrantes que careciam do amor materno-paterno em terra estranha.

Hoje, percebo com alegria, que jovens Irmãs, leigas e leigos – por graça e esforço – fazem dom de sua vida a serviço das novas levas de migrantes que povoam muitos ângulos do nosso campo missionário, presente nos 27 países onde vivemos o carisma scalabriniano. Deo Gratias!

Em tempos de tantos deslocamentos forçados, guerras e crises humanitárias, que testemunho de vida, Madre Assunta, oferece à Igreja e à sociedade?

Relicário da Bem-aventurada Assunta Marchetti

Ir. Leocádia Mezzomo: Nas últimas décadas do século XIX a Itália viu partir muitos dos seus cidadãos em busca de “pão em terras que não os viu nascer”. Neste contexto, a jovem Maria Assunta Caterina, junto com seus familiares, migrou para tornar menos dura a migração dos seus conterrâneos. Sustentar a fé e zelar pelos valores dos migrantes era parte essencial do carisma scalabriniano no qual se engajou. Colocou sua vida a serviço dos órfãos, dos abandonados, dos doentes migrantes em terras brasileiras. Este é um testemunho eloquente para quem tem ouvidos para ouvir, seja na Congregação, na Igreja em geral e na sociedade atual.

Há alguma experiência pessoal que a senhora viveu nesse caminho e que considera um sinal da presença de Madre Assunta?

Ir. Leocádia Mezzomo: Em tempos idos vivi por 9 anos no leste europeu, na Polônia. As dificuldades da língua e a cultura tão diversa, quanto rica de tradições, foi um desafio. Mas várias vezes sentia-me como a Bem-aventurada Assunta Marchetti ‘migrante entre os migrantes’. Trago gravado na memória do coração uma família numerosa de refugiados fugitivos da Turquia. Eram muçulmanos. Eu falava mal o polonês, mas era “a mãe e a mestra” diziam aquelas crianças que eu levava à escola, ia participar das reuniões dos pais, procurava traduzir e ensinar algumas coisas, também para mãe de família.

Missa de Beatificação de Madre Assunta

O que significa para a senhora viver os 130 anos da fundação da Congregação e da chegada de Madre Assunta ao Brasil sendo a postuladora da Causa de Canonização?

Ir. Leocádia Mezzomo: Conhecendo os inícios da Congregação, as dificuldades do caminho, a resiliência das pioneiras e de tantas outras coirmãs que teceram estes 130 anos, vejo cada Irmã como um anel desta corrente que dura já há 130 anos.

Sinto-me com o desejo e o dever de agradecer a Deus por fazer parte desta história que é obra dele. Deus quis e quer esta Congregação, este carisma tão atual, tão necessário. A Congregação, as Irmãs são os instrumentos de Deus, mãos femininas, agraciadas e capacitadas a ajudar os migrantes e refugiados a descobrirem a presença de Deus que peregrina ao lado deles.

Como Postuladora da causa de canonização, anseio para que este ano seja reconhecido o milagre que levará a Bem-aventurada Assunta Marchetti à glória dos altares com a canonização.

Do Serviço de Comunicação

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