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Antiqua et Nova: IA deve promover o bem comum e o cuidado com os mais vulneráveis

O Vaticano divulgou na terça-feira, 28, a Nota “Antiqua et Nova” sobre a relação entre Inteligência Artificial e inteligência humana dos Dicastérios para a Doutrina da Fé e para a Cultura e Educação. O texto, aprovado pelo Papa Francisco, é dirigido a pais, professores, sacerdotes, bispos e a todos os que são chamados a educar e transmitir a fé, mas também àqueles que compartilham a necessidade de um desenvolvimento científico e tecnológico “a serviço da pessoa e do bem comum”.

O documento destaca que “a Igreja encoraja o avanço da ciência, da tecnologia, das artes e de outras formas de esforço humano”, vistas como colaboração dos homens e mulheres no aperfeiçoamento da criação. O texto ressalta que “as habilidades e criatividade humanas vêm de Deus” e, quando são utilizadas de forma correta, refletem a sabedoria de Deus.

“É dentro dessa perspectiva que a presente Nota aborda os desafios antropológicos e éticos levantados pela IA — questões que são particularmente significativas, pois um dos objetivos dessa tecnologia é imitar a inteligência humana que a projetou”, pontua a Nota, que recorda que, diferente de muitas outras criações, a IA pode ser treinada para ter novas habilidades, que muitas vezes rivaliza com a capacidade humana, “como produzir texto ou imagens indistinguíveis de composições humanas”, o que “levanta preocupações críticas sobre o papel potencial da IA na crescente crise da verdade no fórum público.”

O texto sublinha, ainda, que a IA é projetada para aprender e fazer escolhas de forma autônoma, podendo se adaptar a novas situações e fornecer soluções não prevista por seus programadores, o que “levanta questões fundamentais sobre responsabilidade ética e segurança humana, com implicações mais amplas para a sociedade como um todo”. A Nota destaca, ainda, a necessidade não apenas de mitigar riscos envolvendo a IA, mas também de garantir que ela seja usada para “promover o progresso humano e o bem comum.”

O documento traz, ainda, a distinção entre Inteligência Artificial e inteligência humana, pontuando que muitas perspectivas supõem que o termo “inteligência” pode ser usado tanto ao se referir à inteligência humana quanto à IA. “No entanto, isso não captura o escopo completo do conceito”, afirma o texto, que ressalta que, para os humanos, a inteligência é uma “faculdade que pertence à pessoa em sua totalidade”, enquanto que, no contexto da IA, ela é “funcional”, visto que ela tem a capacidade de replicar tarefas executadas pelos humanos, mas não tem a capacidade de pensar, ter emoções ou sensibilidade estética, moral e religiosa.

A nota destaca que, apesar de sua grande capacidade de aprendizado, a IA permanece limitada a uma estrutura lógico-matemática e não se desenvolve organicamente como a inteligência humana, que é moldada por experiências sensoriais, emocionais e sociais. A ausência de um corpo físico impede que a IA compreenda plenamente a realidade, tornando-a incapaz de discernimento moral ou da construção de relacionamentos autênticos.

Dessa forma, ressalta o documento, equiparar a inteligência artificial à inteligência humana pode levar a uma visão funcionalista, que valoriza as pessoas apenas por suas habilidades produtivas. No entanto, o valor de cada ser humano não depende de competências ou realizações, “mas da dignidade inerente da pessoa, baseada na criação à imagem de Deus”. Esse princípio fundamenta os direitos humanos e deve orientar o uso ético da IA. O Papa Francisco alerta que chamar essa tecnologia de “inteligente” pode ser enganoso, pois a IA não é uma forma artificial de inteligência humana, mas sim um produto dela, portanto seu desenvolvimento deve ser tratado com responsabilidade.

“Como qualquer produto da criatividade humana, a IA pode ser direcionada para fins positivos ou negativos”, afirma o texto, que sublinha que, quando usada de forma que respeite a dignidade humana e promova o bem-estar, a IA pode contribuir de forma positiva para a vocação humana. No entanto, lembra o documento, “como em todas as áreas onde os humanos são chamados a tomar decisões, a sombra do mal também paira aqui”, que sublinha que, onde a liberdade humana permite escolher o que é errado, “a avaliação moral desta tecnologia precisará levar em conta como ela é direcionada e usada.”

IA e desinformação
O texto traz, ainda, as preocupações sobre “a concentração do poder sobre as principais aplicações de IA nas mãos de algumas empresas poderosas”, agravada pela natureza inerente dos sistemas de IA, onde não é possível exercer supervisão completa sobre os “vastos e complexos conjuntos de dados usados para computação”. Essa falta de responsabilidade aumenta o risco de que a IA seja usada para “ganho pessoal ou corporativo” ou, ainda, “para direcionar a opinião pública em benefício de uma indústria específica.”

“A IA poderia ser usada como um auxílio à dignidade humana se ajudasse as pessoas a compreender conceitos complexos ou as direcionasse para recursos sólidos que apoiassem a sua busca pela verdade”, ressalta o texto, que recorda que a IA apresenta um sério risco de gerar informações falsas, que podem enganar facilmente as pessoas devido à sua semelhança com a verdade, gerando consequências graves. Por isso, os envolvidos na criação e uso de sistemas de IA “devem estar comprometidos com a veracidade e precisão das informações processadas por tais sistemas e disseminadas ao público.”

Militarização da IA
O texto aponta, ainda para o risco grave e crescente da militarização da IA, uma vez que o uso de armas autônomas pode desumanizar a guerra, reduzir a responsabilidade moral e intensificar conflitos. O documento recorda o alerta do Papa Francisco de que a facilidade de recorrer a essas tecnologias pode levar a uma corrida armamentista descontrolada, comprometendo a paz e os direitos humanos.

Além dos riscos teóricos da IA, a Nota pontua a ameaça imediata de seu mau uso por indivíduos com intenções destrutivas. Como alertou São João Paulo II, “podemos transformar este mundo num jardim, ou reduzi-lo a um monte de escombros”. Assim, o desenvolvimento da IA em armamentos deve ser rigidamente regulamentado, assegurando que sempre respeite a dignidade humana e o bem comum.

Sabedoria do coração
O documento recorda que a facilidade de acesso à “vasta extensão do conhecimento do mundo” encheria as gerações passadas de admiração, mas é necessário garantir que esses avanços não se tornem “humana ou espiritualmente estéreis” e, para isso, é preciso sair da mera acumulação de dados e alcançar a verdadeira sabedoria, a “sabedoria do coração”.

Essa sabedoria, iluminada pelo Espírito Santo, permite ver o mundo com os olhos de Deus e compreender o verdadeiro significado das situações. O texto ressalta que a perfeição humana não é medida pelo conhecimento possuído, mas pela profundidade de sua caridade e que, por isso, o uso da IA deve promover o bem comum, a solidariedade e o cuidado com os mais vulneráveis.

Dessa forma, a IA deve ser utilizada para fortalecer a busca pela verdade e pelo desenvolvimento humano integral, sempre orientada pela sabedoria e pela fraternidade. A Nota ressalta que os cristãos têm a responsabilidade de garantir que essa tecnologia sirva à dignidade humana e à sociedade, alinhando o progresso tecnológico ao plano de Deus, “uma atividade que somos chamados a ordenar em direção ao Mistério Pascal de Jesus Cristo, na busca contínua da Verdade e do Bem.”

Leia a Nota na íntegra clicando aqui.

Por Amanda Almeida, do Serviço de Comunicação

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